quinta-feira, 27 de maio de 2010

Amigos do Museu do Artesanato ponderam providência cautelar

Tiago Cabeça não põe “de parte a hipótese de avançar com uma providência cautelar”, se a Turismo do Alentejo (TA), a Câmara de Évora (CME) e o coleccionador Paulo Parra “insistirem” em implementar o protocolo que firmaram recentemente com vista à criação de um Museu de Design no Celeiro Comum, actualmente ocupado pelo Museu do Artesanato.
Tiago Cabeça é presidente da Associação Árvore de Pedra, que teve um papel pioneiro na denúncia do projecto e na mobilização em defesa do Centro de Artes Tradicionais (antigo Museu do Artesanato).
Falando segunda-feira ao REGISTO, considerou que o processo vive actualmente um “compasso de espera”, imposto pela viva reacção da opinião pública ao alegado “ataque” ao Museu do Artesanato.
Nas actuais circunstâncias, Tiago Cabeça duvida que os signatários do protocolo insistam em concretizar os seus objectivos, pelo menos por agora e pela via tentada. No entanto, caso o façam, não descarta a hipótese de interpor com uma providência cautelar.

José Pinto de Sá
Semanário REGISTO - 19 Maio 2010

Seminário

TURISMO CULTURAL NA CIDADE DE ÉVORA – POTENCIALIDADES E DESAFIOS

Turismo Cultural e Marcas de Identidade
Foi-me grato receber o convite para vir participar neste Seminário, em boa hora organizado pelos docentes e alunos da disciplina de Planeamento de Eventos e Animação Turística. E de pronto aceitei, interessado que estava em participar nesta reflexão colectiva. Resolvi falar das marcas de identidade que nos distinguem, e que os forasteiros procuram como aquilo que nos diferencia e constitui a razão para nos visitar.
O Alentejo é um território privilegiado para o turismo de itinerância e descoberta, virado para a busca da História, da Natureza, dos sabores. O riquíssimo património da nossa Região é o nosso capital turístico que importa obviamente pôr a render, sem esquecer que não pode apenas ser usado, mas que também terá que ser mantido, recuperado, valorizado, ampliado. Ele será assim a base de uma actividade económica para os dias de hoje, mas também , sustentadamente, para o futuro. A salvaguarda e reforço deste capital constitui hoje um dos nossos maiores desafios.
O Alentejo é Património, o Alentejo é Natureza, o Alentejo é Ruralidade. É também, e sobretudo, o fruto do trabalho dos homens e mulheres que o habitaram e viveram, deixando aqui as marcas do megalitismo, do passado romano, árabe e visigótico, da idade do ouro da nossa arquitectura, do manuelino, até aos nossos dias deixando as marcas de sucessivas ocupações humanas.
Évora, capital do Alentejo, cidade histórica Património da Humanidade, foi e continua a ser a locomotiva e plataforma de distribuição do turismo regional, representando cerca de 25% das dormidas de toda a Região, perto de 300.000 no ano de 2009. Destino de importantes fluxos excursionistas, Évora ultrapassará facilmente o meio milhão de visitantes anuais. Apesar de ser o centro turístico mais cosmopolita do Alentejo, continua a predominar em Évora a procura dos turistas nacionais. E há que acarinhar o nosso mercado interno: os portugueses continuam a ser um dos povos mais ligados aos seus valores identitários, seja em manifestações tradicionais e artísticas, seja nos sabores, seja nos elementos patrimoniais.
Na oferta turística desta cidade, continuamos hoje a beneficiar também de muitas intervenções de um passado recente, que quando da sua realização dificilmente se esperaria que produzissem tais resultados.



2.

Quando em 1959 Vergílio Ferreira publicou o romance “Aparição”, quem poderia prever que hoje o roteiro implícito que ele contém seria seguido pelos estudantes do secundário, em visitas de estudo a Évora? Quando no início dos anos sessenta os membros do Grupo Pró-Évora inventariavam e protegiam elementos notáveis do património construído, quem poderia pensar que esse Centro Histórico que ajudaram a estudar, conservar e preservar hoje atrairia mais de meio milhão de visitantes por ano? A “descoberta”do Cromeleque dos Almendres , nesse mesmo período, permitiria a alguém supor que este viria a ser um dos monumentos megalíticos mais visitados da Península Ibérica ? Os primeiros concursos de gastronomia tradicional lançados pela Câmara de Évora no início dos anos oitenta, abertos a restaurantes e a particulares, dificilmente permitiriam prever que o Alentejo teria hoje a gastronomia tradicional mais bem preservada do nosso País, e constituindo o segundo motivo para visitar o Alentejo de acordo com os estudos de motivações.
É importante valorizar essas intervenções fecundas de um passado recente, e é bom assinalar outras iniciativas susceptíveis, hoje, de criar frutos nos futuros imediato e próximo. Que dizer da valorização, nos nossos espaços públicos, dos cantares populares tradicionais e dos corais eruditos, dando maior visibilidade à nossa tradição musical? Que impacto não teria a actuação mais frequente de organistas na Sé e na igreja de São Francisco, e a presença mais assídua do coral Eborae Musica nas nossas igrejas recordando a música da Escola da Sé de Évora do século XVII? E por que não o regresso do “Viva a Rua” animando as noites quentes da Praça de Giraldo com o cante e as músicas do Mundo?
Mas falar de “marcas de identidade” é falar de cultura popular, e das suas manifestações mais fortes, ligadas ao passado de um mundo rural que vai rapidamente desaparecendo. É falar do artesanato, e sobretudo daquela realidade difícil de enquadrar, que é o artesanato tradicional de qualidade.
Este é um tema particularmente oportuno quando se tem falado nos últimos dias no Museu de Arte Popular, de Lisboa, que passou os dez últimos anos fechado e que, recusando-se teimosamente a morrer reabriu simbolicamente no passado dia 18, Dia Mundial dos Museus, em resultado da acção cívica persistente de tantos cidadãos que se recusaram a aceitar o seu encerramento, ou a tolerar que no seu lugar, no seu espaço, se viesse a instalar um outro museu, por muito importante que fosse.
Em Évora, também um museu de arte popular se recusa a morrer. Criado pela Junta Distrital em 1962, foi instalado no edifício do antigo Celeiro Comum, um belo exemplar do nosso barroco. Montado com base em reconstituições de ambientes rurais, o Museu de Artesanato Regional ali funcionou, com uma procura significativa, durante perto de 30 anos, até 1991.



3.

Nesse ano, num acto de primarismo e incultura, o representante do Governo procedeu ao seu encerramento, despediu os funcionários, impediu os representantes da Assembleia Distrital de aí aceder, e ali deixou o Museu a apodrecer anos a fio. Só mais de seis anos volvidos o Museu do Artesanato, espaço e acervo, viria a ser devolvido à Assembleia Distrital, em estado de profunda degradação.
Impunha-se reabri-lo, a fim de guardar e dar a conhecer a memória das formas tradicionais, criando simultaneamente um centro de informação vivo em diálogo com os núcleos de produção artesanal espalhados pelo Distrito.
Mas já não era possível, em finais dos anos noventa, reabrir o Museu de Artesanato Regional nos termos em que fora concebido e aberto em 1962. Havia que encontrar formas de apresentação actuais, conceber novas museologia e museografia adaptadas aos nossos dias em diálogo com os interessados, artesãos, representantes do Poder Local, e técnicos da especialidade.
Este trabalho foi atentamente enquadrado por uma Comissão de Acompanhamento constituída por representantes do Instituto Português de Museus - que delegou no Director do Museu de Évora - , da Universidade de Évora, e da Comissão Interministerial para o Artesanato. O trabalho desta Comissão viria a revelar-se de grande importância para levar este trabalho a bom porto.
Houve depois que mobilizar financiamento significativo para concretizar o trabalho planeado – o edifício exigia uma dispendiosa recuperação, e as novas regras municipais exigiam a criação de facilidades inexistentes no edifício – e tal foi tornado possível no quadro do Programa para a recuperação e valorização turística do Centro Histórico de Évora, executado pela Região de Turismo e pela Câmara, com financiamento do Fundo de Turismo. Mas foi preciso muito mais financiamento, e houve que ir buscá-lo ao Programa LEADER, ao terceiro Quadro Comunitário de Apoio, e sobretudo ao Orçamento próprio da Região de Turismo de Évora.
O novo Centro de Artes Tradicionais, que veio a suceder ao antigo Museu do Artesanato Regional no edifício do Celeiro Comum, foi concebido como um centro de interpretação regional, e reabriu em finais de 2007.
Uma exposição permanente, de objectos artesanais agrupados em função da matéria prima de base, apresenta os diversos tipos de produções artesanais existentes no Distrito de Évora, desde os esgrafitos dos edifícios usados como decoração desde a ocupação árabe, passando pelas mobílias pintadas, os têxteis decorativos de Arraiolos, Redondo e Reguengos, a olaria de Viana, Reguengos e Redondo, os figurados de Estremoz, os trabalhos da arte pastoril em madeira, cortiça e corno, e tantos outros objectos representativos da actividade de cerca de 500 artesãos activos no Distrito de Évora.

4.

Uma zona central da nave do antigo Celeiro Comum é ocupada com exposições temporárias que permitem abordar de forma mais extensa a produção artesanal deste ou daquele centro produtor, ou tratar em profundidade um tema específico : no caso da exposição temporária actualmente presente, o tema é o figurado de Estremoz, tratado com base em peças dos anos sessenta pertencentes às reservas do museu.
Uma terceira zona é dedicada ao artesanato moderno, estando actualmente ocupada por uma peça de grandes dimensões do artesão Tiago Cabeça.
Há entretanto que enquadrar os objectos artesanais e a sua produção em materiais escritos, produzidos pelo Centro de Artes Tradicionais. Além do catálogo da exposição permanente, e de catálogos de algumas exposições temporárias, com destaque para a que foi dedicada a Redondo, foram editados Roteiros para diversos produtos artesanais (tapetes de Arraiolos, olaria de Corval, figurado de Estremoz, entre outros ) com a descrição da produção actual e fichas com os contactos dos artesãos produtores, edições estas para apoio directo à comercialização dos seus trabalhos.
Existe também informação audiovisual, que pode ser vista num pequeno auditório situado no final do percurso da visita, e no qual é projectado um filme de enquadramento geral do artesanato do Distrito de Évora com 20 minutos de duração e com versões em cinco idiomas. Para além deste, existem mais duas dezenas de pequenos filmes com durações entre os 2 e os 5 minutos, descrevendo os centros de produção dos diferentes objectos artesanais e o modo concreto de fabrico de cada um deles. No total, o museu dispõe de material audiovisual com um tempo de projecção total de mais de duas horas.
Finalmente, há a informação em suporte digital relativa à história do Museu, ao recenseamento dos artesãos do Distrito de Évora, aos diferentes produtos artesanais deste território, que pode ser consultada individualmente em cada um dos quatro monopostos existentes no final do percurso expositivo.
Não posso deixar de referir o espaço da loja – infelizmente encerrada há quase um ano – onde era possível adquirir peças do artesanato regional cuidadosamente seleccionadas, e que traduziam com felicidade a aposta do museu no artesanato tradicional e moderno de qualidade.
Esta segunda vida do Museu do Artesanato foi consequentemente concebida para, a partir da visita ao Centro de Artes Tradicionais, incitar o visitante a procurar nos centros de produção artesanal espalhados pelo território o aprofundamento dos contactos aqui iniciados, propondo-lhe a itinerância e a descoberta de novos pontos de interesse turístico no nosso território. É a proposta de prosseguir no hinterland de Évora o turismo cultural iniciado na cidade Património da Humanidade.

5.

Fala-se hoje em instalar um Museu de Design-Colecção Paulo Parra no edifício onde actualmente funciona o Museu do Artesanato. O que obviamente implicaria encerrar o Museu do Artesanato. Quem tal se propõe fazer – a direcção da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, a Câmara Municipal de Évora – argumenta com os custos de funcionamento do Museu do Artesanato, e com o número de visitantes que não permitiria cobrir tais custos com as receitas das entradas.
Mas não falam em intensificar esforços promocionais, ou em criar um marketing adequado para “vender” melhor o Museu de Artesanato de Évora. Mas nem reparam na contradição em que caem quando falam, sim, em custear o futuro Museu de Design-Colecção Paulo Parra, até que este seja auto sustentável.
Entre custos com artesanato e custos com design, talvez valha a pena reflectir no que é mais útil para a identidade cultural da Região e para o nosso turismo.
Mas não me parece que devamos perder mais tempo com esta história bizarra.
O Museu do Artesanato deve continuar a dar, em Évora, o seu contributo para o turismo cultural desta cidade e para a mobilização dos forasteiros para o nosso meio rural. A colecção Paulo Parra será muito bem vinda à cidade de Évora, se não for ao preço de liquidar algum museu existente ligado à identidade e à cultura deste território : o que para aí não falta são instalações compatíveis, ao abandono, que poderão ser utilmente recuperadas para o efeito.
Gostaria, para terminar, de endereçar um desafio aos professores e alunos desta disciplina de Planeamento de Eventos e Animação Turística. Por que não encarar como exercício académico a elaboração de um plano de marketing para o nosso Museu do Artesanato? Esse trabalho deveria envolver os vários agentes interessados: artesãos, guias turísticos, hoteleiros, agentes de viagens e, claro está a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e a Câmara Municipal, que dispõem de meios humanos empenhados e meios de divulgação importantes , que conviria neste quadro mobilizar.
Trabalhemos para salvaguardar o que é nosso, e que nunca sairá daqui: a nossa identidade e a nossa diferença.

Muito obrigado pela vossa atenção.

João Andrade Santos
Universidade de Évora - Seminário Turismo Cultural 24 Maio 2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Não há duas sem três?

“É certo que os maus exemplos vêm de cima e já tivemos uma ministra a dizer naturalmente que os “museus nascem e morrem” sem que fosse elucidada sobre a lei internacional e nacional que os considera “instituições de carácter permanente”.
As instituições culturais não são os mastros dos santos populares, que se armam e desarmam nas alturas certas, e as cidades, além de gente e espaço, são memória e instituições.”

Dr. Joaquim Caetano (ex-director do Museu de Évora), in jornal Público, 9/5/2010



Com o início da actual gestão municipal (em 2001), entramos num vestíbulo onde era suposto sorrir, com visível alegria e entusiasmo, um conjunto de ideias inovadoras (e convívio democrático, aberto, não exclusivista, capaz de aceitar o espírito crítico)… Afinal de contas, fomos vendo paulatinamente que não havia mais do que um “cabide”
carregado de “capotes e chapéus” de toda a espécie, cada conjunto mais rasgado e roto que o seguinte…

Expliquemo-nos…

Primeiro, surgiu a “ideia-inovadora” (2004) da “Évora-Moda”
auto-promovida pela CME e outros “ilustres” parceiros da urbe. Isto é, a organização de um desfile de “moda” com figurantes mais ou menos vestidos, e a exibição de uma série de mediocridades nacionais da TV e capas de revistas “cor-de-rosa”… Esta “parada” estapafúrdia foi inaugurada face ao templo romano, pelo que a exorbitância de decibéis e outra poluição ambiente na acrópole da cidade, transformaram a iniciativa num gesto vandálico de agressividade patrimonial que “arrepiou”, com toda a razão, alguns agentes culturais e foi objecto na altura de acesa discussão crítica na Comissão Municipal de Arte, Arqueologia e Defesa do Património. O mesmo disparate se repetiu noutra edição da “Évora- Moda”, na Praça de Giraldo, aí massacrando a fonte henriquina e a igreja de Stº. Antão… Enfim, além do dispêndio financeiro e vários distúrbios culturais, esta iniciativa resultou numa espécie de “capote rasgado e chapéu roto”, retirados do tal “cabide”, colocando Évora alguns dias fora do recatado lugar de classificada pela UNESCO, para abancar na enxerga da foleirice nacional…

Depois, aconteceu a história caricata (2005) de um cavalheiro de nome Tristan Gillot (portador de passaporte belga) que, enquanto se apresentava como “príncipe” da Transilvânia (?), conseguia convencer a gestão municipal de que tinha capitais para erguer em Évora uma fábrica de pequenos aviões… e, nesse sentido, foi-lhe facultada a cedência de 2.688 m2 de terreno. Esta versão “alentejana” do “conto do vigário” acabou com o cavalheiro (referenciado pela INTERPOL como burlão internacional!) preso pelas autoridades, felizmente sem perigo de maior para os cofres da CME… E lá se foram, saídos do tal “cabide”, outro “capote rasgado” e mais um “chapéu roto”… Évora descia, então, da epopeia patrimonial para esse “crepúsculo” transtagano que é o anedotário alentejano…

Por fim, aparece-nos agora a ideia de “posicionar Évora como um centro cultural integrado nas grandes capitais mundiais do design”, segundo o texto do protocolo firmado entre as instituições Turismo do Alentejo, CME e um particular, por sinal Professor de design na Universidade de Évora e, no caso, proprietário da colecção de objectos a servir de acervo a um denominado “Museu do Design” industrial…

Curiosamente, “museu” a edificar no espaço do Museu do Artesanato/Centro de Artes Tradicionais, ignorando a existência deste mesmo espaço museológico e seu respectivo acervo, ainda que pálida imagem do que deveria ter sido um efectivo “museu do artesanato”
alentejano, etc..

Entretanto, temos de dar conta da nossa perplexidade face à hipocrisia reinante, pois ninguém se atreve a dizer que Évora não necessita de um “Museu de Design” para nada! De resto, é “coisa” perfeitamente descontextualizada aqui e agora (compreendemos o perigo que envolve fazer esta afirmação)!…

Mas pense o leitor com alguma lógica: - Se porventura um Prof. da UE beneficiando de relações íntimas, de privilégio, com a gestão municipal, por “mania” ou gosto científico coleccionasse borboletas exóticas, teríamos obrigatoriamente um “museu da borboleta”, “integrado nas grandes capitais mundiais” das colecções de borboletas?


A actual gestão municipal empenha-se (é um facto!) em encontrar o maior número possível de inovações culturais ou lúdicas que, para além do que já se sabe, coloquem Évora no centro das atenções do turismo nacional e internacional, bem como tem procurado afanosamente atrair investimentos e criar emprego para a população… Num e noutro caso, é digno de registo o esforço da gestão municipal, embora não faça mais do que a sua obrigação!

Todavia, acreditamos que deve ser penoso para a gestão municipal organizar desfiles de “moda” que resultaram em fiascos anunciados, acreditar no primeiro estrangeiro que lhe aparece a “vender a banha da cobra” e, por fim, embandeirar entusiasmada (vésperas dos santos populares), de “arco e balão”, no “paleio” de um tal “de professor” na Universidade local (que não deve ter pesadelos nem pesos na consciência, pelos estragos que provoca!), que lhe “vendeu” a ideia da cidade vir a ser um “centro internacional” do design… Começando logo a “abrir” caminho pisando aqui e ali, incompatibilizando-se com os agentes culturais da urbe, pessoas singulares e instituições locais, resvalando para o ridículo nacional! Tudo isto deve ser penoso de sofrer para a actual gestão municipal, mas é muito mais penoso para o preocupado e inquieto cidadão eborense…

Na verdade, não há duas sem três! Decididamente, esta gestão municipal teima em fazer do seu trabalho, na área cultural e lúdica, um “cabide”
de “capotes rasgados e chapéus rotos”!

Esta gestão municipal teima em nos desfigurar a cidade, porque se julga moderna, cosmopolita e de “excelência”, mas no meio de uma cidade de casas arruinadas, incapaz de eficácia na simples limpeza e restauro das calçadas urbanas, alterando-nos sem “autorização”
referendária praças e jardins, atreve-se todavia a pretender ser “centro cultural” não se sabe do quê, acabando numa prática patética de “troca-tintas” disto e daquilo, que desgosta e envergonha grande maioria de eborenses, incluindo parte do seu próprio eleitorado…

Como se diz (ou dizia) nas “passagens de nivel” ferroviárias, aventamos este aviso à actual gestão municipal – PARE, ESCUTE E OLHE!

Palminha da Silva in A defesa 19 Maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Interpelação ao Governo pelo Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda


Assunto: Encerramento do Centro de Artes Tradicionais / Antigo Museu do
Artesanato, concelho e distrito de Évora


Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República


O Centro de Artes Tradicionais / Antigo Museu do Artesanato constitui uma referência
etnográfica da região do Alentejo, espaço de divulgação de um invulgar legado da memória dos costumes e tradições alentejanas e da história de um povo.

Instalado desde 1962 no edifício do antigo Celeiro Comum, o Museu do Artesanato Regional foi criado com apoios diversos, nomeadamente da Fundação Calouste Gulbenkian. Até ao 25 de Abril, o Museu esteve na dependência da Junta Distrital de Évora, data a partir da qual passou para a Assembleia Distrital. Na sequência da transferência de responsabilidades executivas daquele órgão, em 1991, o Governo decidiu encerrar aquele Museu, facto que resultou na inacessibilidade do espaço e espólio, e consequente degradação, durante vários anos.

Em Setembro de 2007, o Museu assumiu a designação de Centro de Artes Tradicionais,
alegadamente por não satisfazer a totalidade dos requisitos definidos pelo Instituto Português de Museus para a classificação como Museu, não obstante os planos de museologia e museografia e a supervisão das equipas técnicas por parte de uma Comissão de Acompanhamento composta por representantes da Universidade de Évora, Comissão Interministerial para o Artesanato e Instituto Português de Museus.

No passado dia 25 de Março, a Câmara Municipal de Évora aprovou o protocolo a celebrar com a Entidade Turismo do Alentejo para a criação do Museu do Design em Évora – Colecção Paulo Parra, a instalar no actual Centro de Artes Tradicionais. Esta decisão ocorre ao arrepio do investimento público havido naquele espaço para a reabertura do Antigo Museu do Artesanato e sem que tenha sido apresentada solução alternativa para o seu acervo público.

Recorde-se que o edifício do Celeiro Comum esteve mais de dezasseis anos encerrado, tendo a Região de Turismo de Évora realizado um projecto de recuperação com vista à reabertura do Museu do Artesanato, cujas obras de renovação e adaptação ascenderam a aproximadamente um milhão de euros, verba obtida através de fundos públicos nacionais e comunitários.

Contendo mais de duas mil peças de grande valor histórico da memória colectiva do Alentejo,acervo documental, nomeadamente em suporte vídeo, distribuídas em duzentos espaços de exposição permanente, o Centro de Artes Tradicionais divulga os diferentes tipos de produção artesanal, enquadrando-os nos locais de origem, tendo ainda um inventário dos artesãos da região.

Desde a sua reabertura foram realizadas diversas mostras e espaços-oficina, expostas
colecções municipais e privadas, dando a conhecer a arte popular e diversas manifestações tradicionais, reforçando e interpretando a identidade alentejana e divulgando as potencialidades turísticas da região. As diversas iniciativas têm sido promovidas pela Turismo do Alentejo, pelo que não se compreende a decisão de encerramento do Antigo Museu de Artesanato.

A Constituição da República Portuguesa, na sua alínea e) do artigo 9.º estabelece como tarefa fundamental do Estado «proteger e valorizar o património cultural do povo português», bem como «apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e colectiva, nas suas múltiplas formas e expressões, e uma maior circulação das obras e dos bens culturais de qualidade» e «promover a salvaguarda e a valorização do património cultural» (respectivamente alíneas b) e c) do ponto 2 do artigo 78º).

Interpelação ao Ministério da Cultura


1. Tem o Governo conhecimento da intenção da Câmara Municipal de Évora e do Turismo de Portugal em proceder ao encerramento do Centro de Artes Tradicionais /Antigo Museu do Artesanato?

2. Considera o Governo aceitável a criação de um novo museu nas instalações do Centro de Artes Tradicionais e em sua substituição?

3. Entende o Governo que foram analisadas todas as soluções técnicas necessárias e que fundamentem a decisão de encerramento do Antigo Museu do Artesanato?

4. Tem o Governo conhecimento do projecto museológico previsto para o designado Museu
do Design em Évora – Colecção Paulo Parra?

5. Que medidas pretende o Governo levar a cabo para a protecção do espólio do Centro de Artes Tradicionais?

6. Que planos prevê o Governo desenvolver para assegurar a exposição pública do acervo do Centro de Artes Tradicionais, bem como proceder à sua divulgação?

7. Entende o Governo que a Turismo do Alentejo tem efectuado a melhor gestão e divulgação do Antigo Museu de Artes Tradicionais?



Interpelação ao Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento


1. Tem o Governo conhecimento da intenção da Câmara Municipal de Évora e do Turismo de Portugal em proceder ao encerramento do Centro de Artes Tradicionais /Antigo Museu do Artesanato?

2. Considera o Governo aceitável a criação de um novo museu nas instalações do Centro de Artes Tradicionais e em sua substituição?

3. Entende o Governo que foram analisadas todas as soluções técnicas necessárias e que fundamentem a decisão de encerramento do Antigo Museu do Artesanato?

4. Em que estudos se fundamenta a Turismo do Alentejo para classificar a criação do Museu do Design em Évora – Colecção Paulo Parra como pólo de atracção turística e elemento catalisador para a fixação de novas populações na região?

5. Entende o Governo que a Turismo do Alentejo tem efectuado a melhor gestão e divulgação do Antigo Museu de Artes Tradicionais?

Requerimento À Câmara Municipal de Évora

Atendendo ao exposto, e ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio requerer à Câmara Municipal de Évora cópia dos estudos em que se fundamentou para a substituição do Centro de Artes Tradicionais /Antigo Museu do Artesanato pela criação do Museu do Design em Évora – Colecção Paulo Parra, bem como cópia do Protocolo tripartido entre a edilidade eborense, a Entidade Turismo do Alentejo e Paulo Parra, aprovado em reunião de Câmara no passado mês de Março.

Palácio de São Bento, 20 de Maio de 2010.
A Deputada
Catarina Martins

Interpelação do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda



segunda-feira, 17 de maio de 2010

MATRIZ CULTURAL ALENTEJANA-A ARTE POPULAR COMO MARCA IDENTITÁRIA DA NOSSA CULTURA

O caso do protocolo entre Câmara de Évora, Turismo do Alentejo e Colecionador Paulo Parra

I – Vivemos numa época em que o fenómeno irreversível da globalização, sob todos os seus múltiplos aspectos, virtudes e pecados, apela aos cidadãos mais conscientes que reflictam sobre as suas raízes como seres reais deste universo, ao mesmo tempo tão igual e tão diferente nos seus valores, nos seus princípios, nas suas crenças, nas suas línguas, na sua forma de estar e sentir, nas suas culturas. Talvez nunca como agora se sentiu tanto a necessidade de as comunidades, principalmente as regionais e locais, afirmarem, defenderem, promoverem e divulgarem as marcas identitárias que as distinguem como comunidades diferentes de outras, nem melhores, nem piores, mas, simplesmente, diferentes. De entre essas especificidades e diferenças, a mais importante e distintiva é a sua matriz cultural, que se afirma nas manifestações materiais e imateriais que, de geração em geração, vão sendo transmitidas. É todo um património de vivências e experiências feito que, não sendo de ninguém em particular, a todos pertence e a todos incumbe defender e dar a conhecer. Tal património é, amiúde, mal compreendido e menosprezado pelos iluminados defensores de que cultura é só a erudita. É um património vasto e diversificado que vai desde a língua, as festas, os contos, a música, as relações sociais, a gastronomia, a arte popular e um sem número de outras marcas.
Nas últimas três décadas, instituições públicas como os municípios e freguesias, ou privadas, como associações culturais, irmandades, grupos de amigos, confrarias, etc., têm testemunhado, por palavras e por actos, a importância da salvaguarda e da divulgação das expressões da nossa cultura popular, editando ou subsidiando livros, organizando mostras, criando “museus” e núcleos museológicos, promovendo concursos gastronómicos, recreações históricas e todo um manancial de realizações que têm em comum atingir aqueles objectivos. Subsidiariamente, tais acções constituem igualmente uma mais valia para um tecido económico muito débil, atraindo visitantes e dinamizando algumas micro e pequenas empresas. Igualmente importante é a perspectiva social, uma vez que se dignifica e reconhece o valor de muitas tarefas e profissões.
O artesão não é apenas um artífice mas também um artista. Um artista que concebe, que desenha, que, face à necessidade de atingir uma qualquer funcionalidade, lhe é capaz de dar resposta, criando um objecto ao qual confere um sentido prático e, igualmente, um sentido estético. É no artesão que se conjugam as capacidades artísticas e manufactureiras. Nele se concentram o engenho, a destreza e a experiência. Esta é-lhe dada por séculos de saber acumulado, ao qual ele acrescenta a sua própria criatividade. Mas mais, para além das respostas às necessidades do quotidiano, o artesão cria pelo puro prazer que lhe dá o acto de criar. Os materiais com que trabalha são simples e disponíveis no seu meio envolvente. As obras que produz são maioritariamente anónimas se bem que, muitas, identificáveis pelas suas características particulares.
Desde sempre, o artesanato e a arte popular têm suscitado o interesse (e, em muitas ocasiões, a protecção) dos poderes públicos. Politicas levadas a cabo nas áreas do trabalho e do emprego pretenderam defendê-lo, dignificá-lo e dar-lhe um sentido mais vincadamente económico e social. Nalguns casos, criaram-se estruturas estatais específicas para o seu enquadramento e acompanhamento. Promoveram-se exposições, editaram-se livros, catálogos e, instituições de prestígio como a Fundação Calouste Gulbenkian, apoiaram e fomentaram o escoamento da produção artesanal (AIP/FIL). A produção artesanal está presente um pouco por todo o mundo nas Casas de Portugal, em vários países onde a diáspora portuguesa chegou. Uma grande exposição do artesanato alentejano esteve presente, vários meses, no ECTARC- Centro Europeu das Culturas Tradicionais Regionais, tendo, posteriormente, sido mostrada em Londres e em França.
É, do meu ponto de vista, absolutamente inquestionável a importância do artesanato como expressão de arte popular na matriz cultural do Alentejo. Também julgo que, numa visão mais economicista, a arte popular/artesanato é igualmente um produto turístico que, associado com outros – gastronomia e vinhos, produtos alimentares de qualidade, paisagens, património arquitectónico – contribui para potenciar o grau de atractividade de uma região. Os visitantes procuram, cada vez mais, aquilo que é diferente, específico e próprio da região ou local e que só aí o podem encontrar com autenticidade e no enquadramento global das suas interligações.
Estas considerações pareceram-me necessárias para situar o caso particular do artesanato na sua expressão regional e para pôr em evidência a sua importância, quer como marca cultural, quer como actividade económica e socialmente relevante.

II – O interesse em dispor de uma mostra da arte popular alentejana a título permanente, em instalações dignas e apropriadas, remonta a finais da década de 50 quando surgiu a ideia de criar um núcleo etnográfico no Museu de Évora. Por razões que não aprofundei, tal ideia foi abandonada a favor da criação do Museu do Artesanato Regional do Distrito de Évora, a cargo e sob a tutela da antiga Junta Distrital, o qual foi inaugurado em 1962. Com a queda do regime em 1974 e a criação das novas estruturas do poder local, o Museu, desde o início alojado no edifício do antigo celeiro comum, passou, em 1991, depois de um atribulado e demorado processo de devolução, para a tutela da Assembleia Distrital de Évora, à qual pertence o acervo, sendo esta igualmente responsável pela sua guarda e gestão. A Assembleia Distrital, procurando um parceiro que assegurasse, de forma estável, a gestão e mostra daquele património, encontrou na então Região de Turismo de Évora, o interesse e a disponibilidade para o fazer, tendo essa parceria sido devidamente formalizada. Para criar as condições necessárias à guarda e exposição das peças e à sua gestão global, nomeadamente nos âmbitos da museografia, da conservação e da segurança, tornava-se necessário reabilitar e adaptar o edifício, tendo-se recorrido ao financiamento com apoios comunitários, no âmbito do III QCA. Tal projecto foi aprovado e totalmente executado. Finalmente, em 2007, o antigo Museu do Artesanato, redenominado Centro de Artes Tradicionais, abriu à fruição do público, nas condições que todos podemos apreciar e que, a meu ver, são excelentes. Às peças do próprio acervo do Museu juntaram-se outras, de coleccionadores particulares, que as cederam por acordo protocolar firmado com a Região de Turismo de Évora.
Simplificadamente, é este o enquadramento e o percurso do actual Centro de Artes Tradicionais – ex-Museu do Artesanato.

III – A reestruturação institucional do sector turístico em Portugal levou à extinção das Regiões de Turismo e à criação das Entidades de Turismo tendo, para o Alentejo, sido criada a Entidade de Turismo do Alentejo (TA). No que se refere à estrutura da Assembleia Distrital não tenho conhecimento de qualquer modificação, com excepção da sua composição política. É hábito corrente que as instituições “herdeiras” respeitem e assumam os compromissos firmados pelas que suas antecessoras, salvo circunstâncias muito ponderosas e excepcionais.
Foi pois com surpresa que, através da comunicação social e de informação disponível na internet, tomei conhecimento da aprovação, pela Câmara Municipal de Évora (CME), de um protocolo em que esta, a Entidade de Turismo do Alentejo (TA) e o coleccionador Paulo Parra se propõem criar o Museu de Design de Évora, no Centro de Artes Tradicionais. Posteriormente, e porque a notícia me chocou e me preocupou como cidadão, procurei ter acesso ao texto do protocolo. Tendo-o conseguido, à minha preocupação juntou-se o meu espanto e a minha indignação. É que o protocolo pretende alterar profundamente a filosofia, o conteúdo e o espaço do actual CAT e criar, com outro âmbito, outra filosofia e outros intervenientes, uma nova estrutura dentro daquela, num hibridismo promíscuo, no qual não se vislumbra nenhuma vantagem para qualquer das duas instituições. Como o protocolo não tem uma só palavra sobre o CAT, o seu acervo, a sua gestão, a sua dependência e funcionamento, todas as hipóteses de interpretação são possíveis, mesmo a sua extinção pura e simples. Não me dispensando de, numa análise mais detalhada, apontar objectivamente aquilo que, do meu ponto de vista, são os seus erros e incongruências, deixo, por agora, tão somente, algumas notas que essa análise me mereceu.
a) Tem um enquadramento legislativo inadequado;
b) Está recheado de contradições e falta de clareza;
c) É pretencioso e mal fundamentado nos seus objectivos;
d) É confuso nos seus considerandos;
e) Carece de legitimidade institucional e ética relativamente às responsabilidades assumidas pelas instituições que o assinam;
f) São desproporcionadas as condições oferecidas face aos benefícios postos à disposição;
g) Algumas pretensões são inexequíveis no espaço físico em causa;
h) Não há qualquer informação quantificada sobre os custos de implementação e de funcionamento;
i) No texto, há referência a documentos e a dados que depois não são explicitados;
j) Há disposições constantes de cláusulas, as quais não se enquadram no seu título;
k) Há cláusulas absolutamente inaceitáveis e outras contraditórias;
l) Há aspectos regulamentares e de compromissos relacionados com a aprovação do projecto, objecto de apoio comunitário, que não foram tidos em conta.

Para finalizar, entendo deixar claro o seguinte:
- Não sou contra a instalação, em Évora, de um Museu do Design, com base numa colecção privada, reconhecida como de qualidade, nos termos de um acordo firmado por quem tenha legitimidade para o fazer e no âmbito de um protocolo equilibrado entre os direitos e obrigações das várias partes;
- Entendo que tal instalação, para a qual há, certamente, alternativas de espaço (lembro as instalações da Palmeira, onde esteve para ser instalado o MACE – Museu de Arte Contemporânea de Évora) não deverá prejudicar nem colidir com os objectivos, gestão, funcionamento e missões de protecção, salvaguarda e divulgação do património de arte popular/artesanato que são propriedade da Assembleia Distrital e que estiveram na origem da criação do CAT- ex-Museu do Artesanato de Évora;
- Acho essencial que seja feita uma avaliação interna e externa do funcionamento do CAT, desde a sua criação, com a elaboração de um relatório que proponha eventuais medidas para melhorar o cumprimento dos seus objectivos e missões;
- Julgo também importante que as entidades envolvidas clarifiquem, junto dos cidadãos, as suas posições neste assunto e que, com ponderação, bom senso e respeito pela arte popular como marca identitária da matriz cultural alentejana, suspendam a assinatura do protocolo e reavaliem o seu conteúdo.

A.J. Carmelo Aires in Diário do Sul, 17 Maio 2010
Destaques nossos

Há Museus que se recusam a morrer!





Criado no Estado Novo, mal-amado quase desde o início, pior amado depois do 25 de Abril, o Museu de Arte Popular fechou, esteve para acabar e transformar-se no Museu da Língua. Afinal, voltou como Arte Popular. Esta terça-feira abre as portas por um dia para mostrar porque é valeu a pena ter sobrevivido.
(Daniel Rocha)

Há quatro anos, estávamos nesta sala a assistir ao fim do Museu de Arte Popular (MAP). A então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, chamou os jornalistas e comunicou-lhes que o espaço, que se encontrava encerrado, iria ser transformado no novo Museu do Mar da Língua.

Havia já um projecto de arquitectura que previa que as pinturas murais fossem emparedadas - quem quisesse vê-las teria que se encolher e espreitar por detrás das paredes falsas. Dificilmente alguém acreditaria que aquele não era o fim do museu inaugurado em 1948 por António Ferro, director do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) e com que o Estado Novo quisera celebrar a cultura popular.

Mas, contra tudo e contra todos, o museu conseguiu expulsar a Língua e as paredes falsas, e reabre agora as portas para uma inauguração antecipada de um dia. Só será verdadeiramente inaugurado no último trimestre do ano, mas, amanhã, Dia dos Museus, o MAP vai mostrar-se de novo à cidade (entre as 10h e as 18h, com visitas guiadas, oficinas de artesanato e teatro).

Estamos de volta à mesma sala e o que se vê são técnicas da Fundação Ricardo Espírito Santo, no cimo de andaimes, a trabalhar no restauro das pinturas murais. Afastada a ameaça de emparedamento, os grandes painéis que decoram as paredes das várias salas são, num museu que ainda não recuperou a sua colecção (guardada temporariamente no Museu de Etnologia, mas pronta a regressar), o centro das atenções.

Há o painel de Lisboa, em tons de amarelo e azul, com peixeiras, manjericos, Santo António e fado (pintura de Paulo Ferreira, 1948), há, do mesmo autor, Terra Saloia, permanente romaria da Estremadura, Ribatejo, arte popular da bravura, e Nazaré, ex-voto do Mar Português. Tomás de Mello (Tom) e Manuel Lapa pintaram, logo na primeira sala, Minho, caixa de brinquedos de Portugal. As Beiras couberam a Carlos Botelho, o Alentejo a Estrela Faria, Trás-os-Montes a Eduardo Anahory, a Tom e a Manuel Lapa, e o Algarve novamente aos dois últimos.

"Como é que passou pela cabeça de alguém que era possível ocultar estas pinturas?", indigna-se o crítico de arte Alexandre Pomar, um dos activos defensores da continuação do MAP (juntamente com a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, a empresária Catarina Portas, e as artistas Joana Vasconcelos e Rosa Pomar, que chegaram a ir bordar para a porta do museu como protesto), e que no seu blogue (alexandrepomar.typepad.com) tem reunido uma enorme quantidade de informação sobre a história do museu.

"Não têm a componente política de serem artistas da oposição, mas não são menos valiosos por isso", defende, referindo-se à equipa de pintores modernistas reunida por Ferro. "São representantes de um compromisso dos pintores modernistas, uma modernidade pacificada. Este é o momento que melhor sobreviveu do trabalho dessa equipa que se destacou na Exposição do Mundo Português em 1940 [para a qual foi construído o primeiro pavilhão, o da Vida Popular, que viria a ser adaptado para o MAP pelo arquitecto Jorge Segurado] e em exposições internacionais", como a das Artes e Técnicas da Vida Moderna, em 1937, em Paris.

O capitão Henrique Galvão [que viria a celebrizar-se pelo afastamento do regime e o assalto ao paquete "Santa Maria"] "atacou ferozmente aqueles pintores, acusando-os de um cosmopolitanismo europeu quando a arte portuguesa devia desenvolver a sua relação com o Ultramar", explica Pomar.

"Esse apelo que Ferro faz à estética modernista em conjunto com a valorização da arte popular tem muito a ver com o seu contacto, logo desde os anos 20, com o movimento modernista, nomeadamente na Semana da Arte Moderna, em 1922 em São Paulo", sublinha Vera Marques Alves, antropóloga e autora da tese Camponeses Estetas no Estado Novo.

"Ele faz essa afirmação da identidade nacional através da reinvenção da estética popular já na [revista] Ilustração Portuguesa [início dos anos 20] e em 1921 fala na criação de bailados portugueses que recuperem o folclore, ideia que mais tarde leva à criação do Grupo de Bailado Verde Gaio." É uma alternativa à História dos grandes feitos e heróis, e "a estética contemporânea é uma forma de mostrar a arte popular como afirmação de uma nação plena de vitalidade no presente" e não a viver de glórias passadas.

O que é o "popular" hoje?

O MAP "é um projecto que vem de 1936, altura em que é completamente contemporâneo", explica Vera Alves. Mas sofre atrasos e em 1948, quando abre, "já está um bocadinho fora do tempo". É sobretudo um projecto de Ferro, diz a investigadora, e "nunca é muito acarinhado pelo regime". Sofre sempre de problemas estruturais, só tem electricidade em 1952, nos anos 60 corre o risco de fechar, mas o seu exterior serve de palco, no final dessa década, ao Mercado da Primavera, que, depois do 25 de Abril, se transforma no Mercado do Povo.

Mas, ao contrário dos outros museus do seu tempo, o MAP sobreviveu, congelado, praticamente esquecido. Chegou "intacto até hoje e é isso que o torna um caso único", defende o antropólogo João Leal. "É raro encontrar exemplos de museus que tenham sobrevivido tanto ligados ao seu projecto inicial."

O que se faz hoje de um museu assim? "É importante mostrá-lo como produto de um determinado discurso que teve a sua época e que pode ser desconstruído", diz João Leal. E abri-lo às expressões das culturas populares de hoje. "Durante muito tempo, elas eram valorizadas como testemunho de um mundo em extinção. Procurava-se o que era autêntico, legítimo, o menos tocado pelas culturas urbanas."

Hoje sabe-se que nunca nada esteve nesse estado puro e que as culturas populares foram sempre híbridas e inseridas em dinâmicas históricas. É possível "pôr em diálogo o popular e o erudito", assumir a hibridização do popular, afirma Leal, lembrando as queens (rainhas) das festas do Espírito Santo, nos Açores, uma influência dos emigrantes que foram para os Estados Unidos e o Canadá.

É a Andreia Galvão, directora do MAP e autora de uma tese sobre o arquitecto Segurado, que cabe a tarefa de "descongelar" o museu. Como? Primeiro, assumindo este museu-documento como uma cenografia que ele sempre foi (Segurado falava na arquitectura como cartaz, lembra Galvão), nesse conjunto "indissociável" entre arquitectura, pinturas murais (com as frases que as acompanham, que terão sido inventadas pela poeta Fernanda de Castro, mulher de Ferro) e a colecção.

Para já, o MAP, com uma equipa ainda pequena mas com um "corpo de voluntariado notável", será um "museu em obra", aberto a quem queira ver como vai nascendo - isso acontecerá no site que será apresentado amanhã, e no qual será possível marcar visitas guiadas ou fazer inscrições nos ateliers de Verão. O exterior, que está degradado, vai também ser recuperado.

Haverá núcleos de memórias. "Estamos a trabalhar com a Cinemateca, teremos filmes de época, sobre a Exposição do Mundo Português e não só, vamos recorrer a muitos documentos da época. Com o Museu do Traje estamos a estudar a possibilidade de trazer o núcleo ligado ao Grupo de Bailado do Verde Gaio", explica a directora. A colecção de fotografias do "povo português" em trajes tradicionais, que estava nas paredes do museu e foi guardada no CCB quando ele fechou, já está de volta e vai ser recuperada.

A colecção só regressará do Museu de Etnologia para a reabertura definitiva, mas para já será possível ver o mobiliário expositivo da época, de Jorge Segurado e Tom, que está a ser recuperado.

Haverá também núcleos interpretativos temáticos ligados aos diferentes espaços no museu. E, claro, a ligação à contemporaneidade: "Vamos explorar o conceito de contemporâneo na arte popular, trabalhar coisas como a reutilização de materiais orgânicos ou a investigação tecnológica no ramo das técnicas tradicionais." O MAP será ainda "uma embaixada do país em Lisboa" aberto às comunidades "para mostrarem o melhor que tenham, da gastronomia às festas".

Só muito poucos acreditaram que seria possível. Mas amanhã o MAP vai provar que há museus que se recusam a morrer.


17.05.2010 - 11:55 Por Alexandra Prado Coelho in Publico 17 Maio 2010

Museu de Arte Popular reabre a 18 de Maio




Mau grado as "sensibilidades culturais" dos responsáveis politicos desta nossa provincia um exemplo claro do que nos devia servir de guia neste caso do Museu de Artesanato de Évora. Nas palavras da Directora do Museu de Arte Popular: “Queremos estabelecer pontes entre o passado e a contemporaneidade. Este museu foi sempre o cerne de uma dicotomia entre a tradição e a modernidade”, observou a responsável, comentando que actualmente “há uma atenção especial para o ‘folk’, o popular”. Um artigo do Público muito oportuno que poderá mostrar aos nossos responsáveis politicos locais o que é realmente importante.

"O Museu de Arte Popular, em Lisboa, vai reabrir para visitas guiadas e actividades pedagógicas no dia 18 de Maio, Dia Internacional dos Museus, revelou hoje à Lusa a directora do espaço, que se encontra encerrado e que esteve em risco de acabar.
O MAP estará aberto ao público para as comemorações do centenário da República (Enric Vives Rubio)

“A partir de dia 18 de Maio vamos fazer visitas guiadas e outras actividades de animação, como oficinas pedagógicas em parceria com outros museus”, disse Andreia Galvão no final de uma visita de deputados da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura ao espaço situado em Belém.

Os deputados estiveram durante toda a manhã de hoje em visita ao Museu Nacional dos Coches, ao Museu Nacional de Arqueologia e ao Museu de Arte Popular, onde foram recebidos pelos respectivos directores para conhecer a situação destes espaços museológicos.

“As parcerias e o trabalho em rede são fundamentais nos dias de hoje”, sustentou a responsável, sem adiantar quais os museus que estarão envolvidos, mas, para já, a entidade vai trabalhar com as Regiões de Turismo do país.

Fundado em 1948, oito anos após a Exposição do Mundo Português, para a qual o edifício foi criado, o Museu de Arte Popular - com um acervo que ascende a cerca de 15 mil peças de actividades artesanais populares de várias áreas, desde cerâmica, brinquedos a cestaria - manteve-se encerrado desde 1999.

Ainda sob a tutela da então ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, esteve para ser transformado em Museu da Língua, mas o actual Ministério da Cultura, depois de uma grande movimento cívico a favor da preservação do simbólico espaço, decidiu manter a finalidade original de albergar a arte popular do país.

Andreia Galvão disse ainda que o programa do museu está actualmente em preparação, ao mesmo tempo que está a ser estudado e recuperado o enorme acervo que se encontra depositado no Museu Nacional de Etnologia.

“Queremos estabelecer pontes entre o passado e a contemporaneidade. Este museu foi sempre o cerne de uma dicotomia entre a tradição e a modernidade”, observou a responsável, comentando que actualmente “há uma atenção especial para o ‘folk’, o popular”.

A directora acredita que será possível fazer visitas guiadas e realizar actividades pedagógicas ao mesmo tempo que decorrem obras de remodelação do edifício, que, neste momento, está a receber um tratamento de restauros das pinturas das paredes interiores.

Ex-vice-directora do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico (IGESPAR), Andreia Galvão deverá reabrir o novo projecto museológico para o Museu em Outubro de 2010, no âmbito das comemorações do Centenário da República."



In Público 17 maio 2010

Os Museus e as tradições

“ Sendo Évora uma cidade com um valor histórico e patrimonial único e inquestionável, que por isso mereceu a reconhecida classificação da Unesco, necessita de uma oferta mais contemporânea e diversificada que contribua para o seu rejuvenescimento cultural pretendendo-se com este protocolo contribuir para a colocar, à sua escala, no roteiro das cidades “Capitais do Design”. Desse modo diferenciado, habilita-se a atrair novos públicos, novos investimentos e novas populações. Nesse contexto propõe-se a criação de um núcleo museológico e de massa crítica na área do Design, capaz de desenvolver acções de promoção da cidade enquanto centro privilegiado de pensamento contemporâneo”.
Assim sustenta o protocolo celebrado entre o Município de Évora, o Turismo do Alentejo e o Coleccionador Paulo Parra, a necessidade da instalação do “Museu do Design – Colecção Paulo Parra” na cidade de Évora.
A ideia é de louvar, uma parceria público-privada para a instalação de um equipamento cultural na nossa cidade. De facto a noção que os forasteiros têm de Évora, é a de uma cidade culturalmente activa, com uma Universidade centenária, e com um notável Património Imaterial e Edificado que radica numa história milenar. Estariam à partida criadas todas as condições para que tal iniciativa se concretizasse.
É isso inclusive que transparece dos objectivos propostos:
“- Criar e manter em Évora um Museu de Design com o acervo da Colecção Paulo Parra com vista à sua digna apresentação ao público nacional e internacional;
- Desenvolver uma linha de programação e de investigação na área do Design;
- Sensibilizar o público em geral para a problemática do Design e da Cultura Projectual;
- Informar e formar os públicos especializados e profissionais na área do Design e da cultura em geral;
Iniciar um processo articulado e coerente de musealização do “Design Português”;
- Elaborar um projecto museológico dinâmico com uma forte vertente de investigação e de experimentação. Proporcionando um Museu flexível, multifuncional, com zonas abertas ao público em geral e com espaços dedicados a formação por intermédio de Workshops, seminários e laboratórios;
- Criar um Museu de Design que contribua para reforçar a qualidade do ensino e investigação do design na EU, bem como do ensino do design e investigação noutras entidades nacionais e internacionais, por via da disseminação de informação associada ao acervo em causa e pela promoção de acções relacionadas com a investigação científica na área;
- Criar um Museu que contribua para permitir o posicionamento de Évora como centro cultural integrado nas grandes Capitais Mundiais do Design.”
Quer-me parecer entretanto que tudo isto navega um pouco entre Cervantes e Gil Vicente, melhor dizendo, entre D. Quixote e Mofina Mendes.
Em primeiro lugar porque quixotescamente, este generoso empreendimento pretende transformar Évora numa das “Grandes Capitais do Design,” Informar e formar os públicos especializados e profissionais nas áreas do Design e da Cultura em geral? Ambiciosa generalização esta, e é aqui que entramos no campo da Mofina Mendes. Com que meios?
O que pensa disto a UE? Já que é referida como parceira na consecução do projecto. Onde estão os estudos feitos que permitam afirmar de forma tão taxativa que o referido Museu seja não só um pólo de atracção turística, mas também um catalisador para a fixação de novas populações?
Poderia continuar este tipo de questões, creio no entanto que estas são bastantes para legitimar as minhas dúvidas. Trata-se de contar com os ovos de Mofina, ampliados à dimensão dos gigantes de Quixote.
Tudo isto seria menos controverso, até mesmo pacífico, se, tratando-se de uma parceria, os riscos do projecto, nem falo dos putativos ganhos, fossem equitativamente repartidos, a começar pela criação de um espaço de raiz onde se instalasse o Museu do Design, mas não.
Foi decidido, diria mesmo congeminado, pelos intervenientes, desalojar o Museu do Artesanato – centro de Artes Tradicionais, para dar berço ao nascituro, e aqui reside o busílis. Encerra-se um espaço museológico, reaberto há dois anos, cuja recuperação custou mais de um milhão de Euros, para fazer mais obras de adequação e substituir o acervo exposto, e que é público, com o fito de lá instalar uma colecção que continuará, por contrato, a ser privada.
Isso é decidido numa olímpica indiferença pela opinião dos contribuintes, e justificado através de uma resposta dada numa entrevista radiofónica e de comentários mais ou menos anónimos em Blogues, que felizmente ainda não estão sujeitos ao lápis azul e nos vão dando conta do que por cá se passa.
É triste, esta falta de transparência, como é penoso ouvir, que o Museu do Artesanato, não se justifica por não ser auto sustentável, ou que não passa de um Centro de Artes Tradicionais, ou que o seu acervo tem paralelo no comércio local, não se justificando por isso a sua existência, ou ainda que não vai desaparecer sendo o seu espólio, reafirmo espólio, absorvido pelo acervo da Colecção Paulo Parra.
Com que direito?
Como é possível desqualificar desta forma um repositório cultural de tantas gerações, a matriz representada de uma região, alegando que um outro museu trará mais gente, sustentar-se-á no curto prazo, (dez anos constituem a vigência do protocolo), transformará Évora numa das Capitais do Design.
Em que se baseiam para afirmar isso?
Quem vos garante que os próximos inquilinos do Sertório não farão o mesmo e instalarão um Museu do que for mais conveniente na Arena de Évora por exemplo?
Instalem o Museu do Design noutro sítio, a população agradece. Se o fizerem ganha-se mais um Museu, se insistirem neste projecto, perde-se muito mais do que um Museu. Perde-se cultura, perdem-se referências.

Miguel Sampaio in Diario do Sul 17 Maio 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Petição Pública pelo Museu artesanato de Évora (Publicada a 28 Março de 2010)


Continuamos a recolher assinaturas na petição on-line pelo Museu de Artesanato de Évora aqui e incitamos os amigos do Museu Regional de Artesanato de Évora a continuarem a divulgar esta petição. O Link é o seguinte:

http://www.peticaopublica.com/?pi=P2010N1721

Assembleia Municipal de Vendas Novas - Moção


Não ao encerramento do Museu do Artesanato de Évora
Foi tornada pública a intenção da Câmara Municipal de Évora e do Turismo do Alentejo de instalar as peças de design do colecionador Paulo Parra no edificio do antigo celeiro comum, onde desde 1962 se encontra o Museu do Artesanato Regional, a partir de 2007 designado por Centro de Artes Tradicionais. Se tal vier a concretizar, a consequencia imediata é acabar com o Museu de Artesanato.
Não se compreende que haja quem possa sugerir a hipótese de encerrar um Museu do Artesanato representativo de uma riquíssima arte popular, num dos territórios do nosso país mais marcados por esse tipo de manifestações tradicionais, do qual constitui uma das mais claras marcas de identidade.
Não se compreende que a Câmara Municipal de Évora e a Entidade Regional de Turísmo do Alentejo se arroguemo direito de liquidar friamente algo que não lhes pertence, um museu de arte popular que desde o 25 de Abril está à guarda do poder local, através da Assembleia Distrital de Évora.
Não se compreende que se pretenda transferir para outra utilização um espaço onde foi recentemente investido perto de um milhão de euros em obras de renovação e adaptação, financiadas com fundos públicos de origem nacional e comunitária, expressamente com vista à reabertura do antigo museu do artesanato.
Não se compreende que numa cidade como Évora, património da humanidade, com tantos edificios de qualidade, se fale em encerrarum Museu para no seu lugar instalar uma colecção privada de design.
Por isso entendemos dever propor a esta Assembleia que se pronuncie contra o encerramento do Museu do Artesanato Regional

Aprovado pela Assembleia Municipal de Vendas Novas
com 12 votos da CDU e 3 votos do PSD; 8 Votos contra do PS

Salvemos o “Museu do Artesanato”

O Protocolo acordado entre a Entidade Turismo do Alentejo (ETA), a Câmara Municipal de Évora (CME) e o coleccionador Paulo Parra (CPP), que visa a instalação da colecção de Design do último no antigo Museu do Artesanato, merece-nos quatro pequenos comentários.

1. O articulado já aprovado em reunião pública de Câmara por PS e PSD permite perceber, claramente, que a ETA descarta com este acordo as responsabilidades que herdou da Região de Turismo de Évora de gerir o Centro de Artes Tradicionais, estrutura de vocação distrital, na origem da qual esteve o Museu do Artesanato (criado em 1962), da responsabilidade da Assembleia Distrital.
Sem uma avaliação pública da gestão e da actividade do CAT, sem se perceber se a Assembleia Distrital está de acordo com esta solução, depois de ter encerrado a loja de apoio há um ano, agora a ETA dispõe-se a acabar de vez com esta estrutura cultural da cidade e da Região; não se percebe se esta decisão foi tomada por " interesse turístico" ou por incapacidade de viabilizar uma estrutura que recebeu ao absorver a RTE.

2. O executivo PS da CME, com o apoio do PSD, torna-se co-responsável pela extinção do CAT, estrutura cultural "identitária" da Região, no que parece ser uma tentativa de se redimir do completo falhanço da criação na cidade de um Centro de Design de Moda, tão propagandeado em campanha eleitoral. Acabar com o CAT parece não merecer reflexão profunda por parte deste executivo camarário.

3. Saúda-se a disponibilidade do coleccionador ao ceder "à cidade" a sua colecção, por dez anos, sem contrapartidas pessoais de qualquer renda. Por certo, como homem de cultura, não quererá ficar com o ónus de contribuir para o encerramento de uma "casa de cultura popular", quando encontra acolhimento para a sua colecção, sonho e realização de uma vida. Seguramente, está disponível para que, sem pressas, as duas entidades interessadas em expor a sua colecção encontrem uma solução melhor para a instalação condigna, tanto mais que o antigo Celeiro Comum não tem, à evidência, área suficiente para albergar todas as valências do futuro Museu de Design de Évora-Colecção Paulo Parra.

4. É de estranha legitimidade e de duvidosa legalidade a solução acordada pelos três parceiros para a administração e gestão do “Museu de Design de Évora”: as duas entidades de direito público (Turismo do Alentejo e Câmara) que acabam com o Centro de Artes Tradicionais, criam a suas expensas todas as condições físicas, logísticas e financeiras para que o objecto do acordo funcione, não tenham, no seu funcionamento nenhuma hipótese de controlar ou influenciar a sua gestão e administração, nas quais o coleccionador terá poder total e discricionário.

Dito isto, por certo se se reflectir nas consequências do articulado pouco consistente deste Protocolo aprovado pela Câmara, será ainda possível reformulá-lo de modo a acautelar eventuais dificuldades legais e a preservar o Centro de Artes Ttradicionais naquele local e instalar condignamente, noutro edifício, a Colecção de Design de Paulo Parra; esperamos que a cidade ganhe mais um pólo cultural sem ter que perder outro.

Manuel J.C. Branco*
In Semanário Registo, 13 Maio 2010
* Historiador

Eduardo Luciano em defesa do Museu do Artesanato

Há alguns dias que, em certos meios da cidade, não se fala de outra coisa.

A possibilidade de vir a encerrar o Centro de Artes Tradicionais tem gerado inúmeras conversas, solidariedades e tomadas de posição.

Tudo isto começou com a apresentação em reunião pública de câmara, de uma minuta de protocolo para a criação de um museu de design.

Trata-se de um acordo tripartido entre um coleccionador privado, a Câmara Municipal e a Entidade Regional de Turismo, que prevê a utilização do espaço onde hoje existe o Centro de Artes Tradicionais para a instalação do dito museu do design.

Aquando da discussão do conteúdo do protocolo, foram colocadas pelos vereadores da CDU várias questões, cujas respostas não considerámos satisfatórias.

Tratando-se de um protocolo em que o Município assume a totalidade da logística, a adaptação do espaço, e os meios humanos necessários ao seu funcionamento, seria natural que junto do mesmo fosse apresentada um estudo que nos esclarecesse qual o valor em causa. Tal não aconteceu e nem em reunião de câmara a vereadora do pelouro ou o presidente foram capazes de dizer com clareza quais os custos para o município da instalação daquela colecção privada.

Previa o tal protocolo a manutenção deste apoio por parte do município até que o referido museu atingisse a auto-sustentabilidade, o que, segundo previsão da responsável do pelouro, aconteceria ao fim de dez anos.

Como o protocolo tem a validade de 10 anos, facilmente se conclui que o apoio se manteria durante toda a sua vigência.

Entendemos que tal distribuição de encargos e benefícios se manifestava lesiva do interesse público.

Nada me move contra a instalação de uma exposição permanente de peças de design industrial na nossa cidade, nem contra o proprietário do acervo a expor. Entendo até que a diversificação da oferta, com a instalação desta exposição permanente, constitui uma mais-valia para o concelho.

O que já não me parece razoável é que essa instalação se faça num espaço onde existe um Centro de Artes Tradicionais e em sua substituição.

Surgem agora argumentos que vão no sentido de nos tentarem convencer que as duas realidades podem coexistir naquele espaço.

Dando de barato a questão do enquadramento das Artes Tradicionais com o Design Industrial, num mesmo espaço, que nos parece francamente improvável e indesejável, basta uma leitura atenta da minuta do protocolo para se perceber que não existe uma única referência à manutenção do que constitui hoje o acervo do Centro de Artes Tradicionais.

Dois aspectos me parecem perfeitamente claros neste processo: por um lado uma desequilibrada distribuição de benefícios e encargos pelos parceiros, ficando, na prática, o município a sustentar a exibição de uma colecção privada de peças de Design Industrial, por outro lado a morte não anunciada de um espaço museológico dedicado às artes tradicionais que a acontecer será um verdadeiro crime de lesa cultura.

Por estas duas razões, eu e os meus companheiros eleitos pela CDU na Câmara Municipal votámos contra a assinatura daquele protocolo.

Lamentavelmente a maioria PS/PSD teve o entendimento contrário. Se existir bom senso ainda vão a tempo de voltar atrás e propor um novo protocolo, mais equilibrado e instalando a colecção de peças de design num outro espaço.

Bem sei que estou a pedir um milagre, mas como hoje é 13 de Maio…



Eduardo Luciano*
in Crónicas da DianaFm, 13 de Maio 2010

(*Candidato e vereador CDU à Câmara Municipal de Évora)

O que dizem outros

Joaquim Caetano, ex director do Museu de Évora, é um dos subscritores de uma Moção de Apelo em defesa do Centro de Artes Tradicionais, que resultou da visita do passado sábado, 8 de Maio.


Em Évora o assunto da agenda política é, por estes dias, o Museu do Artesanato - Museu do Design.
O curioso é que assim sendo, os protagonistas façam todos os esforços para não falar sobre o assunto. Até quando vão conseguir manter o silêncio, é uma das muitas perguntas sem resposta.


O caso é paradigmático da forma de agir dos poderes políticos protagonistas na nossa democracia. Falam do que querem, quando querem, sobre o que lhes interessa. A transparência, a informação ou prestação de contas, o respeito pelos cidadãos que representam, continuam a ser consideradas cerejas que tão facilmente podem enfeitar o bolo, como ser completamente dispensáveis, sob um qualquer argumento minimamente condizente com o bolo em presença.


Assim, são os que não têm capacidade de gestão e interferência directa na coisa pública que é o Centro de Artes tradicionais/Antigo Museu do Artesanato, cidadãos reconhecidos na cidade e na região, que têm vindo a público dizer que não é aceitável que se mude assim de ideias com tanta facilidade e tão pouca explicação. Ou seja, se ainda há cerca de dois anos foram feitos investimentos significativos num Centro de Artes Tradicionais, como vir agora dizer que o Museu tem de mudar de ramo, porque isto do artesanato não é atractivo, não está na moda, mas que o design é que sim.

Parece brincadeira. Mas tudo se passa à custa de dinheiros públicos. Tudo isto parecer depender apenas da pessoa que se senta na cadeira. Mudando a pessoa, tudo muda com ela, até os acervos dos Museus.


Numa coisa todos estão de acordo, todos gostam de Museus. Sejam eles de artesanato, de design, de pintura, de escultura, de marionetas, e de tantas outras possibilidades que dariam para pôr um em cada rua. Mas como não é possível ter para todos os gostos, convém explicar porquê este em vez daquele, de forma a que a maioria dos eborenses compreenda. E já agora, não vale brincar com o argumento que o Centro de Artes Tradicionais não é economicamente rentável. Ou teríamos de fechar o Museu de Évora, a Biblioteca Pública, o Teatro Garcia de Resende ...
O que todos queremos é abrir novos espaços destes, não fechar os que existem.

Publicada por Dores Correia Blogue A cinco tons

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Marcas de identidade que nos distinguem numa era de globalização

A importancia da cultura e da arte popular no contexto da globalização e invasão de objectos de todo mundo revela-se pelo que nos distingue e é autentico.
Há que fazer a defesa dessas marcas identitárias das quais o artesanato é uma suas das principais manifestações.
Este caso é um reflexo da incapacidade de algumas pessoas fazerem este tipo de reflexão, sobre a importancia para nós como comunidade da defesa da promoção e divulgação da arte popular, que tem no artesanato a sua expressão concreta.
O protocolo celebrado entre a Câmara Municipal o Turismo do Alentejo e o Colecionador Paulo Parra revela uma grande ligeireza e irresponsabilidade na solução encontrada para a exposição de uma outra colecção - que terá interesse mas não deveria prejudicar a importancia da nossa cultura popular - e para a qual podem encontrar-se outras soluções na cidade.
Existencia de uma colecção com uma qualidade minima que seja é sempre proveitosa mas não prejudicando outras coisas que são mais importantes, mesmo que pretendendo-se atingir outros objectivos economicos como essa “autosustentabilidade” do Museu de Artesanato.

Carmelo Aires
(Ex Presidente da Comissão Coordenação Região Alentejo)
Na Visita ao Museu Artesanato a 8 Maio 2010

Possíveis Ideias futuras para o Museu Artesanato Évora


Porque a Câmara Municipal de Évora (CME) e o Turismo do Alentejo (TA) celebraram em protocolo a possibilidade de financiar integralmente o Museu de Design privado até à sua “sustentabilidade” tomamos a liberdade de propor encaminhar os mesmos fundos para a “sustentabilidade” do Museu Publico de artesanato. Assim deixamos aqui algumas ideias que apelamos sejam complementadas por quem o considere pertinente.

Reforçar quadros gestão

Com adjudicação por concurso interno rigoroso e público, dentro da CME e do TA (por exemplo por protocolo entre as partes), de um técnico superior ao Museu. Tónica do concurso na experiencia e criatividade para desenvolvimento futuro deste. Concurso mais encaminhado para técnicos superiores das areas da Cultura, Turismo e Desenvolvimento economico da CME e TA. Abrir a todas no entanto.

Envolver associações de artesãos a nivel Regional
Como orgãos consultivos e porventura deliberativos reforçar assim carácter Regional do espaço.
Promover junto destas parcerias eventos como “O artesão ao vivo da semana” ou “Como fazer um objecto”, ou afins.

Reconhecimento Oficial
Inventariar todo património. Procurar reunir as condições para o reconhecimento do estatuto que já teve de Museu Regional. Reforçar este uma vez re-obtido.

Reforçar acervo
Com novas aquisições. Novas propostas. Procurar objectos perdidos. Enfase também nas novas tendencias.

Protocolos com a Universidade
O protocolo para o Museu de design invocava o nome da Universidade nomeadamente "Criar um Museu de Design que contribua para reforçar a qualidade do ensino na Universidade de Évora" no entanto esta instituição não era de forma visivel interveniente neste documento. Propomos pelo contrário tentar estabelecer parcerias conjuntas, nomeadamente com o departamento de história e outros para a Identificação de percursos históricos do artesanato e a descoberta dos objectos que mudaram a região e o país. Artesanato do Alentejo nos Descobrimentos. O artesanato do Alentejo no mundo.

Protocolos com o IEFP
No seguimento das décadas de formação profissional na área do artesanato procurar envolver o Museu e o IEFP no rastreio dos resultados obtidos com esse investimento do estado português: Novas tendencias do design de artesanato; novas propostas do artesanato. Envolvimento destas propostas na vida moderna e no quotidiano.

Protocolos com outros Museus
Protocolos com Museus de artesanato do país, Câmaras municipais e/ou outras entidades/particulares para intercambio de exposições e/ou experiencias.
Fazer o mesmo com Museus internacionais.

Promover o Museu
Como a promoção do Museu é quase inexistente (uma vez que até a maioria dos Eborenses desconhece que este existe) desde a sua reabertura há dois anos propomos que os gastos que se previam, por parte da CME e do TA em material gráfico, material digital, campanhas promocionais, publicidade, etc para o Museu do Design Privado aconteça de facto, mas para o Museu de Artesanato Público.

Roteiro Cultural para crianças e familias
Envolver o Museu de artesanato de Évora, outros nucleos museológicos Regionais e outros na criação de um Roteiro cultural para crianças e familias. Museus, Adegas, lagares, panificadoras, parques temáticos, colecções privadas, etc... Vocacionar todo um roteiro para visitas culturais diversificadas que contribuam para estadias turísticas mais prolongadas e façam, de cada criança e de cada pai turista no Alentejo, um embaixador cultural da região.

Em defesa do Museu de artesanato

Estabeleci como regra não voltar a temas abordados em crónicas anteriores, no entanto, porque o assunto me é caro e dada a importância do que está em causa, vou abordar de novo o encerramento do Museu do Artesanato – Centro de Artes Tradicionais, para instalar no edifício que este actualmente ocupa, o Museu do Design – Colecção Paulo Parra.

Não sou contra (nem ninguém de bom senso o poderia ser) a instalação em Évora de um equipamento como o Museu do Design; é bem-vindo. Oponho-me, isso sim, ao fim de um repositório do que é a nossa memória colectiva. Porque de um fim se trata, já que pelo que me foi dado ler, o protocolo celebrado entre a Câmara Municipal de Évora, o Turismo do Alentejo e o coleccionador, o Professor Paulo Parra é omisso quanto ao destino a dar a este acervo.

Para onde vai? Sob a responsabilidade de quem? Estará disponível para ser visto? Ficará a população privada da mais-valia que ele representa? Perguntas pertinentes que carecem de resposta, até agora inexistente.

Foi investida uma soma considerável de dinheiro para que o Museu do Artesanato tivesse um espaço condigno. Isso pressupõe uma vontade política, algo que seja consistente no tempo, que ultrapasse a mera conjuntura determinada pela cadeira do poder. Não se pode mudar agulha apenas porque surgiu uma proposta que é, dadas as circunstâncias mais apetecível do que já estava instituído. Negar esta regra sem razões plausíveis é abrir uma “Caixa de Pandora”. Se essas razões são de natureza financeira, encerrar um museu é atentar contra a cultura, privar a população de um bem, apenas porque o Estado entende que deve gerir um equipamento público como se fora privado. Ninguém numa democracia pode ter este entendimento das coisas. Chama-se a isso desrespeito pelos cidadãos, que no fundo são quem suporta tal equipamento.

Como do protocolo resulta que continuaremos a ser nós a viabilizar com os nossos bolsos o Museu do Design, pelo menos até ser economicamente sustentável - quando irá acontecer essa viabilidade não se sabe - a questão que se põe é se a decisão de substituir um museu por outro não deveria ter sido mais participada.

Sem colocar em causa as boas intenções dos envolvidos, gostaria de frisar que as características do espaço inviabilizam a disponibilização simultânea dos dois acervos em causa, e se como já ouvi, irão ser expostas peças pertencentes ao museu do Artesanato, quer na exposição permanente, quer em exposições temporárias, quem será o responsável pela gestão e manutenção do acervo do Museu do Artesanato? O director do Museu do Design? Ou guardam-se os artefactos num armazém, encaixotados, e quando for necessário recorre-se a eles?

Esta história está toda muito mal contada. Transparência precisa-se.

Quando falei do Cemitério dos Prazeres, como é óbvio ficcionei, jamais paguei o que quer que fosse para lá entrar, mas convenhamos que com o caminho que as coisas levam, qualquer dia, artesãos e artesanato só mesmo nos cemitérios.

Depois não digam que é tarde.


Miguel Sampaio (ex candidato à Câmara Municipal de Évora pelo Bloco de Esquerda)
in Crónica DianaFm

Grupo Pro Évora - Comunicação

Celestino David, em representação do Grupo Pro Evora, interviu no passado dia 8 de Maio no encontro Museu de artesanato de Évora com a seguinte comunicação:

O Grupo Pro Évora Considera que é fundamental valorizar o Centro de artes tradicionais - Museu de Artesanato de Évora e que não se pode pôr em causa a sua existência nem dividir um espaço que já de si é exíguo e perfeitamente adaptado às funções que desempenha. Partilhar esse espaço com outra colecção, seja ela qual for, não é viável.

O Protocolo publico entre as três entidades: Câmara Municipal, Turismo do Alentejo e Coleccionador Paulo Parra, merecia certamente uma reapreciação. Não satisfaz o que se espera de um documento com essa importância e ignora as instituições no terreno.

Sobre a colecção de Design Paulo Parra Considera o grupo Pro Évora que não só é importante como será bem vinda à cidade de Évora, instalando-se num outro espaço que lhe seja exclusivamente dedicado.


Celestino David - Presidente pelo Grupo Pró Évora
8 Maio de 2010

Uma vaga ideia de memória

Há dois anos e meio que abriu o Centro de Artes Tradicionais de Évora, herdeiro do Museu de Artesanato que ocupou o mesmo edfificio histórico dos Celeiros Comuns entre 1962 e 1991, e já surge a ideia da câmara e do Turismo do Alentejo de aí instalar a Colecção de Design de Paulo Parra.
A colecção Parra é uma excelente colecção e era bom que fosse mostrada de forma permanente, mas é preocupante ver a facilidade com que as entidades públicas ultimamente se dispõem a abrir e fechar museus com a maior das leviandades e sem que haja avaliação de espécie alguma do que foi feito.
É certo que os maus exemplos vêm de cima e já tivemos uma ministra a dizer naturalmente que os “museus nascem e morrem” sem que fosse elucidada sobre a lei internacional e nacional que os considera “instituições de carácter permanente”.
As instituições culturais não são os mastros dos santos populares, que se armam e desarmam nas alturas certas, e as cidades, além de gente e espaço, são memória e instituições.

Joaquim Caetano in “Público” 9 de Maio de 2010

domingo, 9 de maio de 2010

Visita ao Museu 8 Maio - Moção de apelo

EM DEFESA DO CENTRO DE ARTES TRADICIONAIS, ANTIGO MUSEU DO ARTESANATO DE ÉVORA
Alertados pela petição lançada a público no passado dia 27 de Março, reunimo-nos hoje aqui no antigo Celeiro Comum onde, desde 1962, funcionou o Museu do Artesanato Regional.
Estamos conscientes que as intenções de ocupar este espaço com uma colecção de peças de design equivale a destruir mais uma memória da história e da identidade da nossa comunidade.
Apelamos por isso às entidades responsáveis pelo Protocolo respeitante à instalação do Museu de Design de Évora - Colecção Paulo Parra, museu cujo interesse não contestamos, para que desistam da intenção de o instalar no antigo Celeiro Comum, pois há outros imóveis de qualidade na cidade de Évora que – ao contrário deste – aguardam há muito uma utilização condigna.

Évora, 8 de Maio de 2010,
António Carmelo Aires
Joaquim António Guerra Monteiro
Maria Teresa Lacerda Correia de Paiva Monteiro
Abílio Dias Fernandes
Marcial Rodrigues
Luisa Margarida da Palma Coelho Gancho
Inácio José Caeiro Nunes
José Pinto de Sá
Celino Rodrigues da Silva
Silvia Pinto
Celestino Froes David
Fernando Guerra
Manuel Joaquim Calhau Branco
João Bilou
Luis Manuel Salgueiro Garcia
Joaquim Oliveira Caetano
Maria Manuela Alegria da Silva
Tiago Cabeça
João Andrade Santos

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Protocolo Museu do Design já é público e omisso sobre o artesanato.

O Protocolo entre a Câmara Municipal de Évora, o Turismo do Alentejo e o colecionador Paulo Parra já é público e, nesta cópia que obtivemos por email, verificamos que também é absolutamente omisso sobre o acervo do Museu do Artesanato de Évora. Um dos objectivos deste é "Posicionar Évora como um centro cultural integrado nas grandes Capitais Mundiais do DESIGN". É referido também que a Autarquia e o Turismo do Alentejo suportam todas as despesas (incluso com aumento de pessoal auxiliar, segurança, seguros, promoção, etc...) até à "sustentabilidade do projecto" mas não é definido um prazo limite para que essa se verifique. Ao colecionador cabe nomear a Direcção e gerir todo o seu acervo. Todas as receitas, directas e indirectas, revertem para a gestão do mesmo.







quinta-feira, 6 de maio de 2010

Novas presenças confirmadas sábado dia 8 ás 16h.


Estão confirmadas mais presenças no próximo sábado dia 8 de Maio pelas 16h no Museu de Artesanato: Celestino David, Presidente do Grupo Pró-Évora já manifestou vontade de exprimir a sua opinião no livro de visitas do Museu. O Grupo Coral "Cantares de Évora" também já manifestou intenção de aparecer.

domingo, 2 de maio de 2010

Em defesa do Museu de artesanato de Évora - Visita ao Museu sábado 8 Maio às 16h




A Câmara Municipal de Évora aprovou, na reunião pública do passado dia 25 de Março, o protocolo proposto pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo com vista à criação de um Museu de Design a instalar no antigo Celeiro Comum, onde se encontra o Museu do Artesanato. Damos as boas vindas ao novo Museu de Design, mas entendemos que nada justifica que se encerre um museu existente para nas suas instalações se vir a instalar outro.
Porque consideramos que a defesa da nossa memória colectiva é responsabilidade de todos, defendemos a existência do Museu do Artesanato de Évora, e a sua manutenção nas suas instalações de sempre.
Convidamos por isso todos os amigos desse Museu a visitá-lo no próximo Sábado, dia 8, a partir das 16.00 horas. A trazer os filhos, a convidar outros amigos, e em particular os jornalistas desta nossa terra, a vir manifestar a sua opinião e a registá-la no livro de visitantes.
Presenças confirmadas, já temos a do Dr. Carmelo Aires, do Dr. Joaquim Caetano que dirigiu até há pouco o Museu de Évora, do historiador Dr. Manuel Branco, e do Dr. João Andrade Santos. Nos próximos dias, confirmaremos mais presenças.
Entrada, 2 Euros. Para as crianças, gratuita.
Apareçam !