segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Posição da Perpetuar Tradições sobre a abertura do pretenso Museu de Artesanato e Design

1.No passado dia 10 do corrente, e após um ano de encerramento do Centro de Artes Tradicionais – Antigo Museu do Artesanato, reabriram as portas do Celeiro Comum para apresentação de um pretenso “Museu do artesanato e do design” (MADE) a inaugurar lá para Dezembro, conforme informaram os promotores do negócio. A abertura foi discreta, o que se compreende face ao aspecto de impreparação e de falta de qualidade com que o visitante é confrontado, e que evidencia a pressa com que foi decidido reabrir as portas do Celeiro Comum, para marcar calendário perante o inquérito desencadeado pela Comissão Europeia no seguimento da denúncia apresentada pela Perpetuar Tradições. E a pressa foi tanta, que nem sequer foi retirado da fachada do Celeiro Comum o pendão que lá está desde 2007 anunciando a exposição”Marcas de Identidade”, exposição permanente de artesanato do Centro de Artes Tradicionais…

2.A belíssima nave do Celeiro Comum perdeu agora mais uma parte significativa do seu espaço de exposição, parte essa que foi ocupada por um gabinete para a direcção do MADE, por um espaço de biblioteca, e mais outro para reservas, cortando aliás a leitura da sala. O auditório onde se apresentavam filmes do realizador Francisco Manso sobre a produção artesanal de região, está fechado. Dos dois ecrans de plasma em que se projectavam pequenos filmes mostrando como se produzia esta ou aquela peça, resta apenas um. Os monitores através dos quais se acedia ao registo dos artesãos, às suas produções, e à história e ao acervo do Museu do artesanato, desapareceram. Do artesanato do Alentejo, que ocupava quase toda a nave do Celeiro Comum, resta apenas uma pequena exposição ocupando um terço ou menos do actual espaço expositivo, sem metodologia clara, sem enquadramento escrito, com tabelas feitas em geral sem critério e sem informação adequada, e na qual não se vê agora boa parte dos tipos de peças artesanais representativas do território e que se encontravam anteriormente representadas na exposição permanente “Marcas de Identidade” do Centro de Artes Tradicionais. Do total da estantaria que esta última ocupava, apenas metade continua agora ocupada com artesanato alentejano. Em contrapartida, as restantes 25 estantes do Centro de Artes tradicionais estão agora numa exposição de peças de design, e a zona central da nave, tradicionalmente ocupada com exposições temporárias de artesanato, apresenta agora mais design, numa exposição de cadeiras. Quem pudesse ter dúvidas quanto às reais intenções dos promotores do MADE – coleccionador Paulo Parra, Turismo do Alentejo e Câmara de Évora – e que foram também anteriormente os subscritores do protocolo de criação do “Museu do Design – Colecção Paulo Parra”, perceberá agora que o artesanato alentejano só ficou presente residualmente no espaço do Celeiro Comum para servir de álibi face às críticas da opinião pública e ao inquérito da Comissão Europeia.

3.O projecto do Centro de Artes Tradicionais – Antigo Museu do Artesanato, que foi cuidadosamente definido na sua museologia e na sua museografia e largamente publicitado junto das autarquias, artesãos e mais interessados antes da sua concretização em Setembro de 2007, teve o acompanhamento científico do Instituto Português de Museus, da Universidade de Évora, e da Comissão Interministerial para o Artesanato. Foi um projecto elaborado em estreita ligação com a comunidade, e que por isso teve a sua concretização apoiada financeiramente apoiada pelas autoridades nacionais e comunitárias. Encontra-se agora irreconhecível, gravemente mutilado e em risco de desaparecer, tal como o antigo Museu do Artesanato após o seu encerramento em 1991. Em seu lugar encontra-se algo indefinido, sem projecto divulgado, numa falta de transparência que não augura nada de bom, e confirma as preocupações de que se está perante uma utilização indevida de meios públicos. E a afirmação propagandística de que o MADE vai ser integrado na Rede Portuguesa de Museus não resiste à apreciação que anteriormente foi feita pelas entidades competentes, segundo a qual o espaço disponível no Celeiro Comum não viabilizava tal solução, levando na altura à substituição da designação de Museu do Artesanato Regional pela de Centro de Artes Tradicionais – Antigo Museu do Artesanato.

4.Importa recordar os factos que levaram à movimentação cívica que culminou na criação da Perpetuar Tradições – Associação de defesa do artesanato do Alentejo, e na intervenção pública desta em defesa do antigo Museu do Artesanato. O abandono a que foi votado o Centro de Artes Tradicionais , as repetidas declarações da Turismo do Alentejo alegando não ter vocação para gerir um Museu, o protocolo de 25.03.2010 de criação do Museu do Design – Colecção Paulo Parra ocupando as instalações do Centro de Artes Tradicionais, a posterior “emenda” feita em Julho do mesmo ano mudando-lhe o nome para Museu do artesanato e do design, o posterior encerramento do Centro de Artes tradicionais e, um ano volvido, a abertura à pressão de um MADE visivelmente improvisado, sem projecto divulgado e sem qualidade, tudo isto evidencia aquilo que os promotores deste negócio gostariam de esconder : o desprezo pela cultura popular e pelas suas manifestações. Por tudo isto, a Perpetuar Tradições entende que se justificou todo o trabalho até aqui desenvolvido em defesa do artesanato do Alentejo e do seu Museu. E a garantia de que, em nome desse objectivo, vamos continuar !

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Entidade Regional Turismo Alentejo abre Museu do Design amanhã

Pressionada pela Comissão Europeia

A Entidade Regional de Turismo do Alentejo (ERTA) pretende abrir amanhã, 11 de Novembro de 2011, de forma aparentemente discreta o novo Museu privado de Artesanato e Design que substituirá o Centro de Artes Tradicionais antigo Museu de Artesanato Regional de Évora existente desde 1962.

Aparentemente estará na origem desta decisão a pressão, pela Comissão Europeia, de fiscalizar a manutenção do projecto de Artesanato, cuja recuperação custou aos cofres Europeus - há apenas 3 anos - cerca de um milhão de euros, projecto que a ERTA defende será continuado nas mãos deste privado.

Na origem da queixa à Comissão Europeia está a Associação Perpetuar Tradições, que tem vindo a lutar pela manutenção do projecto original de Artesanato do CAT e sistematicamente vem denunciando esta entrega de património público a um privado, sem concurso público ou razão justificável. A ERTA que se justifica “sem meios” e “sem vocação” para “manter museus” será também, em protocolo já estabelecido com a Câmara Municipal de Évora, o garante financeiro deste projecto “privado” que pode ascender a mais de um milhão de euros para o contribuinte, arcando estas entidades durante pelo menos uma década com despesas que vão desde a conta da água a aquisições de novas obras.

Embora aparentemente e oficialmente abrindo portas amanhã não é conhecido se o novo Museu de Artesanato e Design estará de facto aberto ao público a partir desta data.