No seu primeiro ano de existência, o MADE teve três a quatro vezes menos visitantes que o antigo Museu do Artesanato nos primeiros doze meses de funcionamento
Fez no passado dia 10 de Novembro um ano que abriu, no edifício do Real Celeiro Comum, o MADE-Museu do Artesanato e Design de Évora. Criado por um protocolo assinado em Março de 2010 pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo, pela Câmara Municipal de Évora e pelo colecionador Paulo Parra, o então chamado Museu do Design destinava-se inicialmente a albergar a coleção privada de objetos de design do referido colecionador no espaço onde até então tinha funcionado o Centro de Artes Tradicionais-Antigo Museu do Artesanato, que fora inaugurado em Setembro de 2007 e tinha beneficiado de um investimento de mais de um milhão de euros em recuperação patrimonial e aquisição de material de exposição.
Justificava, então, a Entidade Regional de Turismo esta nova
parceria público privada com a alegada insustentabilidade do antigo Museu do
Artesanato e com uma confessada falta de vocação para gerir um museu. Mas tais
argumentos não satisfizeram a opinião pública que assistia com indignação à
liquidação de um projeto de valorização das marcas de identidade da nossa
Região e à oferta - a título gratuito - de um espaço nobre da Cidade e de todo
o equipamento nele contido a um colecionador privado.
O movimento de opinião que se desenvolveu e culminou na
criação da associação PERPETUAR TRADIÇÕES forçou os parceiros do Museu do
Design a alterar o projeto, que passou a chamar-se de ”Museu do Artesanato e
Design”, mas tal mudança cosmética não evitou uma denúncia feita à Comissão
Europeia de desvio dos fundos disponibilizados por Bruxelas para um projeto
diferente daquele para o qual tinham sido contratados. O processo que foi
aberto pela Comissão forçou os parceiros do museu do design a novas adaptações,
a fim de tentar dar satisfação formal às exigências de Bruxelas, impedindo
assim que o artesanato alentejano fosse totalmente retirado das instalações do
Celeiro Comum onde estava presente desde 1962.
Passou um ano sobre a abertura do MADE.
As peças de artesanato ocupam agora, apenas, uma parte da
belíssima nave do Celeiro Comum, sem ordem aparente, sem pedagogia, com toda a
parte escrita praticamente anulada. Boa parte do espaço é ocupada por peças de
design da coleção Paulo Parra cujos catálogos substituíram na recepção todos os
catálogos, folhetos e mais documentação escrita sobre o artesanato alentejano, que
dela foram retirados. Foram anulados espaços de exposição para criar um
gabinete para o professor Paulo Parra e para a sua biblioteca de design, mas um
ano volvido sobre a inauguração do MADE, tais espaços continuam vazios e sem
utilização. O Auditório do antigo Museu do Artesanato está inacessível ao
público e desativado, inviabilizando a projeção de mais de uma vintena de
pequenos filmes sobre a produção dos diferentes objetos artesanais da Região.
Neste primeiro ano de existência, e a ajuizar pelo número de
ingressos vendidos, o MADE terá tido cerca de 3.000 visitantes. O Centro de
Artes Tradicionais-Antigo Museu do Artesanato recebeu entre a sua inauguração
em Setembro de 2007, e Setembro de 2008, perto de 11.000.
O MADE, entidade sem consistência nem conteúdo, serviu para
eliminar um projecto válido e cientificamente suportado: foi o resultado de uma
parceria negativa, negativa para a Cidade e para a Região, que pode conduzir
pela sua visível insustentabilidade ao fim da presença do artesanato alentejano
no Celeiro Comum.
A associação Perpetuar Tradições constata que a vida e os
resultados concretos vieram a posteriori justificar plenamente toda a sua
intervenção crítica e em defesa do Museu do Artesanato, e fica a aguardar com
curiosidade as explicações que a parceria do MADE poderá apresentar.
Évora, 3 de Dezembro de 2012,
A Direcção,
Tiago Cabeça; A.Carmelo Aires; J.Andrade Santos; Miguel Sampaio; Celso Mangucci