quinta-feira, 17 de junho de 2010

Resposta a entrevista de Antonio Dieb

Por Tiago Cabeça

No seguimento da entrevista do vereador Antonio Dieb no passado dia 10 de junho ao Registo, onde este autarca reflecte sobre a possível “solução” para o Centro de artes tradicionais, Museu de artesanato de Évora, manifesto a minha preocupação e constrangimento pela incoerência e confusão que o assunto parece estar a provocar junto dos responsáveis que votaram favoravelmente o protocolo celebrado entre a Câmara de Évora, o Turismo do Alentejo e o Coleccionador Paulo Parra.
De facto em entrevista a uma rádio de Évora a própria vereadora da Cultura, antes da divulgação pública do referido protocolo, assegurava que a intenção da Câmara era promover um museu conjunto Artesanato/Design. Aparentemente a razão da partilha prendia-se com a escassa visibilidade pública do Centro de artes tradicionais e sua actual insustentabilidade financeira. Nesta lógica entregar um Museu Público, pago pelo contribuinte, a um privado apresentava-se à CME e ao Turismo do Alentejo como uma solução que permitiria, aparentemente, “inserir Évora nos roteiros internacionais do Design” e poupar recursos.
Esse protocolo veio a tornar-se público e nas suas seis páginas, constatámos, não havia uma única referência ao Centro de artes tradicionais Museu de artesanato. Não só isso como a Câmara e o Turismo do Alentejo comprometiam-se a assegurar toda a “sustentabilidade financeira” do Museu privado de Design sine diem. Incluso prevendo a duplicação dos postos de trabalho e demais eventuais despesas. Verificou-se portanto que, a Srª Vereadora e demais instituições, ou desconheciam o que estavam a defender ou, pior, mentiam.
Nesta altura vem em entrevista do Sr Vereador Antonio Dieb, que aparentemente votou também favoravelmente este protocolo, afinal admitir que tinha conhecimento que o Museu, pelo Turismo do Alentejo não tinha sido "devidamente dinamizado, resultou num falhanço, a Entidade Regional de Turismo considera que não é a sua vocação, nem tem competências para o gerir, e tenciona fechar aquele espaço e tornar o Museu de Artesanato uma espécie de museu itinerante por toda a região."
Portanto temos que por parte da CME: o Museu vai ser conjunto; por parte do Turismo do Alentejo: fecha-se ou torna-se itinerante (?!...) e por parte do vereador Antonio Dieb que o Turismo do Alentejo foi incompetente sequer para o promover.
Este autarca, que assegura na reunião de Câmara onde isso foi votado, foi "o único (e as actas estão aí para prová-lo) a dizer que teria que ser encontrada uma solução" infelizmente não se lembrou de assegurar isso mesmo no protocolo votado. Mas com esta declaração ainda nos confunde mais: se o Turismo do Alentejo não tem competência para promover o Museu então… fechamo-lo?... Nessa lógica se um Director, por exemplo, de hospital for incompetente fecha-se o Hospital?... Na mesma lógica uma escola?... Uma Câmara?... Então o “problema” do Museu é mesmo do Museu ou de quem o gere?... Ou é só pressa de entregar o Museu a um privado?... Mas então se há mesmo que o entregar a um privado porquê a esse?... Certamente haverá mais… Com despesas pagas “até à sustentabilidade do projecto” certamente haverá mais quem se interesse e surja com ideias. Eu posso propor pelo menos meia dúzia de pessoas. Poderá até surgir algum privado que apresente um projecto de… Museu de Artesanato… Porque não?
Tenho de lamentar a leveza com que se está a decidir deitar para o lixo parte da nossa história, do legado de nossos pais e avós, da nossa cultura, de quem somos. Um povo que cospe na sua história é um povo sem futuro.



Carta na edição do Semanário Registo 17 Junho 2010
Pág: 2 Cartas ao Director



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