sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Évora: Artes tradicionais ou 'design'?




por LUÍS MANETA

In Diário de Noticias 10 de Setembro de 2010

Futuro Museu do Design no edifício do Museu do Artesanato lançou contestação de grupo de cidadãos.

A decisão da Câmara Municipal de Évora e da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo de instalar o novo Museu do Design no edifício onde se encontra a funcionar o Centro de Artes Tradicionais (Museu do Artesanato) vai ser contestada em tribunal por cidadãos que consideram tratar-se de uma opção que "empobrece" a memória histórica do Alentejo.

"Uma vez que os nossos argumentos não foram ouvidos por quem decide, resta-nos avançar com uma providência cautelar. Não chegamos lá de outra maneira", diz ao DN o artesão Tiago Cabeça, primeiro subscritor de uma petição com 650 assinaturas contra a "secundarização" do Museu do Artesanato, cujo espólio constitui um "importante marco da memória dos usos, costumes e tradições" da região.

O recurso a tribunal, cuja fundamentação jurídica está a ser preparada, é apontado como a "derradeira tentativa" para travar a abertura do Museu do Design, prevista para o início do próximo ano, no edifício do antigo Celeiro comum, próximo da Capela dos Ossos. O mesmo espaço onde em 1962 foi inaugurado o Museu do Artesanato, que ali funcionou até à década de 90. Em 2007, depois de um investimento de um milhão de euros, o museu reabriu portas.

"Não compreendemos como é que se pretende pôr de lado um investimento que foi apoiado por fundos comunitários com o objectivo de valorizar a cultura regional", diz Tiago Cabeça, considerando que "não faz sentido manter num edifício com apenas 200 espaços expositores" uma colecção de artesanato e outra de design industrial. "São coisas completamente diferentes. Uma é a etnografia e o artesanato do Alentejo, outra são peças de plástico para produção em massa."

Recusando comentar a providência cautelar, o presidente da ERT do Alentejo, Ceia da Silva, garante que o museu irá continuar a ter uma "valência de artesanato", estando a decorrer o concurso público para requalificação do espaço. Já a vereadora da Cultura na Câmara Municipal de Évora, Cláudia Pereira, diz que a ameaça de recurso aos tribunais "não fará parar" o processo de criação do Museu do Design, composto por cerca de 2500 objectos coleccionados por Paulo Parra, professor auxiliar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

"É uma parceria público-privada cujo protocolo com o coleccionador será assinado em breve", acrescenta Cláudia Pereira, segundo a qual "nada impede" a coexistência de uma colecção de artesanato com outra de design industrial. "A colecção de Paulo Parra intitula-se 'Da pedra lascada ao iPod' e por aí se pode ver que existe uma ideia de continuidade. No fundo, estamos a falar de produtos que são todos eles para massas, pois o artesanato também é produzido em série, não se trata de peças únicas."

Para a câmara e para a ERT, o projecto é ainda justificado com a necessidade de "imprimir uma nova dinâmica" ao Centro de Artes Tradicionais, "transformando-o de facto num museu, através da inclusão e desenvolvimento no seu projecto expositivo de novas valências" que poderão "contribuir para a sua revitalização, captando novos públicos".

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