sábado, 20 de novembro de 2010

Vem aí o museu da vergonha.

Museu de artesanato de Évora encerrou.

O museu de artesanato de Évora, que existia desde 1962 e que foi alvo de remodelação há apenas dois anos, com mais de um milhão de euros pagos pelo contribuinte, encerrou para novas obras de adaptação. Vai ser entregue a um privado, ao alegado professor Paulo Parra, para nele fazer o seu museu do design e da vaidade pessoal. Para ser famoso basta isso. Não é necessário prestar serviços públicos de relevância. Não é preciso destacar-se em prol da comunidade. Basta comprar uma colecção de qualquer coisa e pôr os amigos e os jornais a dizer bem dela. Bem ou mal, não interessa. Basta encontrar dois deslumbrados que mandem alguma coisa de interesse público e convencê-los que somos um “ícone mundial”. Será o museu do amiguismo de Évora. Vai ser conhecido a nível nacional como a prova que ser amigo do poder compensa. O museu que num país civilizado seria um caso de polícia. A prova de que ter amigos nos lugares certos nos dá impunidade total e nos permite parasitarmos o contribuinte até ao limite da racionalidade, da vergonha e para além destas. Vai ser o museu da cunha. Da inimputabilidade política que demonstra que não existe justiça neste oeste selvagem que é o nosso país, onde o povo é manso e não se importa até de passar fome no lugar de questionar a classe política medíocre que nos rege. Vai ser o museu da vergonha de Évora. O museu dos que não querem saber da sua terra nem da sua cultura. Dos que dão mais importância à aparência de fazer alguma coisa. Dos que preferem a mesquinhez do diz que disse que o futuro que deveriam construir para os seus filhos. Vai ser o museu que prova que somos os porcos da europa. Que estendemos a mão como pedintes porque não temos o que comer e que mal nos apanhamos com ela cheia fazemos festas de arromba para os amigos, com os europeus que nos deram a esmola de boca aberta a verem este espectáculo. Vai ser o museu de Ceia da Silva, presidente do turismo do Alentejo, e de Ernesto Oliveira, presidente da câmara municipal de Évora, e das suas raivas e rancores contra esta cidade que não compreendem e que em boa verdade nunca os aceitou. Será o museu também da sua inimputabilidade política. Um dia terão de se explicar. Não à sociedade. Terão de se explicar aos seus filhos e netos. Vão ter de encontrar uma desculpa para este acto bárbaro e odioso. O prazer de mandar por mandar é um prazer pífio. É o vazio dos medíocres. Gerir com saber, justiça e sensibilidade está muito para lá do conhecimento de pequenos tiranetes de província. Exige homens com H grande. Homens maiores que a sua saloia vaidade pessoal. Homens a sério.
Que Deus vos perdoe.

Tiago Cabeça
Artesão
in Semanário Registo 18 Novembro de 2010



Sem comentários:

Enviar um comentário