quinta-feira, 1 de julho de 2010

As Forças negras e o Museu de artesanato

Resposta a entrevista do Sr Presidente da Câmara Municipal de Évora Dr José Ernesto Oliveira

No passado dia 23 de Junho em entrevista na edição do Semanário Registo o Presidente da Câmara de Évora, Dr José Ernesto Oliveira, classificava – sem referir nomes – o Movimento de Defesa do Museu de Artesanato de “Forças negras”. Afinal o Museu de Artesanato não vai ser substituído, afirmou o Presidente.
Nunca foi intenção chamar-lhe “Museu de Design de Évora – Colecção Paulo Parra” (conforme estava na Proposta de Protocolo aprovada em reunião de Câmara 25 Março 2010), mas sim “Museu do Design e Artesanato”. As “Forças negras” estavam carecas de saber isso e “aquilo” (entenda-se o Museu de Artesanato) até vai beneficiar com isso. Afinal “quantos anos tem a colecção que lá está exposta?”. Coisas velhas portanto. Precisamos é delas modernas e reluzentes…
Também, segundo as palavras da sua vereadora da cultura Cláudia Pereira, “isso só pode valorizar o espaço e o espólio que um suposto grupo de amigos deste museu que agora aparece, nunca conseguiu valorizar”(*).
Para desinformação estamos falados. Também há quem lhe chame “navegar à vista”, conforme – neste caso – a contestação pública.
O aparente “fracasso” do Museu de artesanato – que pertence ao Turismo do Alentejo -a nós se deveu. Afinal o Centro de artes tradicionais, Museu de artesanato que “É para fechar…”; “vai ser Museu conjunto…”; “Poderá ser itinerante…” também terá parte da culpa porque “Não é auto sustentável”… Porventura o único no país que terá essa obrigação. Mas também quem o manda não ser moderno e reluzente?...
Não havia dinheiro sequer para a sua promoção e divulgação e mau grado o seu carácter Regional, o Turismo do Alentejo não encontrou aparentemente ninguém no Distrito capaz de sua gestão e deste milhão e duzentos mil euros nele empregues em recuperação há dois anos apenas. Nem câmaras municipais, nem juntas de freguesia, nem associações de artesãos, nada…
Ainda agora esteve fechado quinze dias, pois a licenciada a contrato a prazo, que tanto varre o chão, vende bilhetes, organiza exposições e faz visitas guiadas, teve uns dias de férias, e o Turismo do Alentejo não tinha ninguem para a substituir…
A única solução para o Museu foi mesmo um privado com uma colecção privada, “colega” da srª vereadora na Universidade, mas que ela “nem conhecia”. Perguntarão: um privado com uma boa ideia submetida a concurso público, correcto?... Nem por isso.
Tem esta colecção de Design industrial algo a ver com a nossa cultura, a nossa região, as nossas tradições?... Não. Tem este privado algum mérito reconhecido, intervenção pública, é benemérito de alguma coisa pelo bem público praticado ou afim?... Nicles.
Então nós, contribuintes, vamos oferecer a este privado um Museu, que acabámos de pagar e custou um balúrdio e é um repositório da nossa história, tradição e cultura porque... sim?!... Parece que sim.
E vamos pagar-lhe esse novo Museu de Design, que vai ter custos fixos pelo menos ao triplo do actual, porque... sim?!... Parece que vamos.
E pelo caminho temos de tornar o acervo histórico de Artesanato do Alentejo necessáriamente parte do Design deste senhor?... É o que parece. Mas menos mal… Quando o tal protocolo foi a votos nem isso lá vinha acautelado… Ainda bem que ele não coleciona borboletas…
Felizmente que o Museu de Design deste conhecido desconhecido do Sr. Presidente e da Srª vereadora não vai ser público como o de Artesanato. Vai ser privado. E já sabemos também que não vai ter problemas de divulgação, falta de pessoal, escassez de verbas ou outros que tais porque para esse estão já garantidas todas as despesas pagas pela Câmara e pelo Turismo do Alentejo (sim… os mesmos que não têm dinheiro sequer para uma substituta de férias) - incluso com aumento de pessoal - até à sua “sustentabilidade financeira” surja ela quando surgir… Nas palavras da Srª vereadora “dado o empenho do colecionador será muito em breve concerteza”…
De facto nunca nos insurgimos contra o Museu de Design e sua instalação em qualquer outro (dos muitos) espaço devoluto da cidade, (como aliás ainda há pouco uma prestigiada galeria internacional o fez) o problema é que este “coleccionador professor da Universidade local, que não deve ter pesadelos nem pesos na consciência pelos estragos que provoca, vendeu a ideia da cidade vir a ser um “centro internacional” do design… começando logo a abrir caminho pisando aqui e ali, fazendo isto resvalar para o ridículo nacional”(**) e quem devia ter a obrigação de actuar com bom senso – o Sr. Presidente da Câmara – parece estar mais preocupado em identificar Forças Negras, que em dar ouvidos ao povo que o elege. E vai daí trata logo de desclassificar e insultar as pessoas que tenham a opinião divergente da sua.
Interesse público?... O Museu de Artesanato custou um dinheirão ao contribuinte. O Turismo do Alentejo não investe no Museu e ele “fracassa”. É oferecido à Câmara e esta atira-o pela janela, por acaso na exacta altura em que um conhecido desconhecido vai a passar, que o apanha e mete ao bolso...
Daqui de onde estou, as únicas Nuvens negras que vejo são as que pairam por cima de toda esta história…

(*) in Caféportugal.net 8 junho 2010
(**)Palminha da Silva in A defesa 19 Maio de 2010

Tiago Cabeça (artesão)
In Semanario Registo 1 Julho 2010

http://www.registo.com.pt/

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