sábado, 24 de abril de 2010

Não deixar voltar o Museu ao esquecimento


O Museu de artesanato de Évora
Por imperativo moral decidimos, em nome próprio e pela Árvore de pedra – associação de artes, ofícios e defesa do património cultural, lançar, faz algumas semanas, uma petição na Internet em defesa do não encerramento do recém aberto (há cerca de dois anos) Centro de artes tradicionais - Museu de Artesanato de Évora: http://www.peticaopublica.com/?pi=P2010N1721
De facto este espaço foi protocolado, no passado dia 25 de Março de 2010, pelo Turismo do Alentejo e pela Câmara Municipal de Évora como destinado à abertura do futuro Museu do Design - Colecção Paulo Parra. Encerra-se um museu de espólio público. Abre uma colecção particular. Perde não só o contribuinte (um milhão de euros de investimento em recuperação do edifício) como a nossa história. Perde a etnografia. Perde a cultura. O Museu de artesanato, mau grado a pouca divulgação que teve neste espaço de tempo, começava a redescobrir o seu espaço: em mostras e espaços oficina, com colecções municipais, privadas e trabalho ao vivo de todo o distrito e não só.
Nesta petição referimo-nos a este novo Museu do design como uma mais valia para a nossa cidade. Considerámos no entanto que o desaparecimento do Museu de artesanato seria uma perda irreparável. Argumentou-se que este não desaparecia. Seria um espaço conjunto. O espólio do Museu de artesanato são cerca de duas mil peças, além do acervo documental nomeadamente em suporte vídeo. A colecção de Design Paulo Parra, consta, outras duas mil e quinhentas peças. O museu de artesanato tem duzentos espaços expositores permanentes e desta forma será difícil colocar nestes, portanto, quatro mil e quinhentos artefactos. O resultado está à vista: desaparecerá a prazo. O Museu de artesanato de Évora, encerrado que esteve mais de dezasseis anos, é também desconhecido para a grande maioria dos eborenses infelizmente.
Várias pessoas assinaram esta petição. No momento em que escrevo vamos em trezentas e noventa assinaturas. Assinaram pessoas que conhecemos, de todas as sensibilidades politicas: Abílio Fernandes da CDU e ex-presidente da Autarquia , Carmelo Aires ex-vereador do PSD na Câmara Municipal de Évora, Renata Marques do PS e adjunta da Governadora Civil, Miguel Sampaio do Bloco de Esquerda só para citar alguns de memória, mas houve mais. Assinaram muitas pessoas que não conhecemos. Várias exprimiram solidariedade mas por motivos que lhes serão caros não subscreveram. Tentámos sensibilizar S.a Ex.a a Ministra da Cultura e o Presidente do Instituto português de Museus. As Delegações Regionais. O presidente do IEFP Francisco Madelino (instituição responsável por centenas de formandos em artesanato e pela Feira Internacional de Artesanato de Lisboa), e os vários partidos políticos representados a nível local. Sensibilizámos o PPART – Programa para a Promoção dos Ofícios e das Micro empresas Artesanais. O Cearte - Centro de Formação Profissional do Artesanato. Várias associações de artesãos e de desenvolvimento local. Os meios de comunicação sociais. Contactámos a Associação de Artesãos de Évora AARTOE (de que não fazemos parte) e o seu presidente Rodrigo Pato informou-nos que “não era assunto que lhes dissesse respeito”… Contactámos particulares e amigos.
O artesanato é a nossa vida e em consciência não nos poderíamos alhear desta triste decisão que a Câmara Municipal de Évora e o Turismo do Alentejo tomaram. A ocupação do espaço pelo Museu de Design de Paulo Parra está já com data marcada para Julho próximo e lamentavelmente não antevimos que alguém de direito ponha a mão na consciência até lá e o evite. Resta colocarmo-nos à disposição de não o deixar cair no esquecimento.
Assim em nosso nome pessoal, da Oficinadaterra e da Árvore de pedra – Associação de artes, ofícios e defesa do património cultural e seus associados, colocamo-nos na disponibilidade de acolher o espólio do Museu de artesanato de Évora, quer material quer imaterial, e proporcionar – dentro das nossas possibilidades - a sua disponibilização ao público. Este acolhimento poder-se-á realizar no âmbito do projecto que temos em curso em Arraiolos ou, envolvendo-se a Câmara Municipal de Évora ou outra instituição também na disponibilização de um espaço devoluto, levar o mesmo a cabo em Évora. Fica expressa a nossa intenção e disponibilidade. Agradeceremos toda a ajuda, de instituições e particulares, que nos disponibilizem para o efeito também. Formalizaremos esta intenção nos próximos dias junto da Câmara Municipal de Évora e do Turismo do Alentejo.
A todos os que se envolveram e solidarizaram fica o nosso abraço.

Tiago Cabeça e Magda Ventura

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