sexta-feira, 30 de abril de 2010

Museu do Artesanato, Centro de Artes Tradicionais, Museu do DEsign (Industrial)


A Câmara Municipal de Évora (CME), a instituição “Turismo do Alentejo” e um professor de design (e coleccionador) da Escola de Artes da Universidade de Évora (EU), resolveram sentar-se à mesa das “parcerias” para assinarem um “estupendo” protocolo (25/3/2010).
Na prática, o referido “protocolo” serviu para decidir que o espaço tutelado ingloriamente pelo “Turismo do Alentejo” (entidade sem qualquer vocação para a área museológica!), passa para o domínio da CME e esta autarquia, por sua vez, resolvida a excluir da cidade o que resta da “tosca” memória da cultura popular recolhida no Antigo Museu do Artesanato, transformado há poucos anos (após obras dispendiosas) numa versão minimalista de museu, baptizada Centro de Artes Tradicionais, entregou-se a empurrar para fora do seu espaço (para um armazém, para o esquecimento, para o nada?) esta mesma unidade museológica, de forma a encontrar local para uma colecção de design industrial, propriedade do cavalheiro que é professor na EU e, assim, uma vez adquiridas as peças (por compra?) e efectuadas obras no espaço (outra vez obras?), inaugurar finalmente em Évora um museu do design!
A colecção do citado cavalheiro, compreende cerca de 2000 objectos dos sécs. XIX e XX, o que é de “grande e consoladora” importância para Évora nos tempos que correm, pela singularidade dos objectos a expor, como por exemplo uma caneta de marca waterman, de 1884...
Dissemos acima finalmente, explicamos porquê : - Évora foi, é e será no futuro, como todos sabemos, um grande centro industrial!!! Há mais de um século que esta cidade viu “crescerem”, fora da cintura de muralhas, “unidades fabris” tão grandes e com tantos milhares de trabalhadores que, por exemplo, se comparada com a velha CUF (Barreiro) esta última parece-nos hoje pequena produção de drogaria, pelo que a inauguração de um museu do design industrial na velha urbe é consequência lógica... e “justifica-se” plenamente!
Discutir se a CME, como corpo executivo saído das urnas de votos, deve ser ou não indiferente à política cultural que convém à cidade num momento de crise nacional, é lamentável. É uma discussão imoral: - É o mesmo que discutir se um filho deve chorar ou não pela morte de seu pai!
Todavia, há cidadãos que entendem discutir as decisões culturais da CME...
Da autoria de artesãos da cidade, corre na Internet uma petição pública há cerca de um mês, solicitando que não seja encerrado o Centro de Artes Tradicionais, para aí se instalar o dito museu de design... Ignorando as grandes transformações culturais efectuadas pela CME, desviando o olhar das multidões que aplaudem e agradecem comovidas, trémulas de justo orgulho, a obra feita pela CME na área cultural, chegam mesmo alguns opositores a insinuar que esta decisão de encerrar um arremedo de museu para abrir no seu espaço um outro arremedo dedicado à mostra pública de uma colecção privada (colecção “sociologicamente tão enraizada na cidade”, como já se disse!), é afinal de contas a versão provinciana do sucedido em Lisboa com o “comendador” Joe Berardo e a sua colecção de arte contemporânea (248 obras), exposta num espaço escolhido e adaptado do Centro Cultural de Belém, por ordem do esclarecido despotismo do actual Governo!
Felizmente que os eborenses e os cidadãos amigos de Évora são sensatos... Deixam gritar os declamadores da petição que corre na Internet, sem lhes dar ouvidos (num mês as assinaturas da petição não atingiam o número de 400!), porque já estão amestrados pela experiência de muitos anos e, portanto, sabem que em matéria cultural face ao presente executivo da CME, tanto faz dar-lhe na cabeça, como na cabeça lhe dar!
De resto, devemos sorrir da acusação sistemática dirigida ao executivo da CME, pois todos sabemos que a CME “não quer nem pratica” a política de individualidades soberanas e de coortes oficiosas, de dádiva, de empenho zeloso e de protecção vinculada; aquela política de intimidades, de vassalagem, onde só há conezias e prebendas para os íntimos, vassalagem rendosa dos espíritos, mercado das consciências; aquela política cultural superior e flutuante, ornada e iluminada, donde chovem, com pródiga abundância, os títulos, as rendas, as acomodações, os subsídios, as dádivas, os favores, as opulências!
Não senhor! A CME em matéria cultural não receia os castigos da opinião pública, porque não tem a leviandade de aplicar às ideias culturais transfigurações insensatas, e às suas formas práticas de execução mutilações miseráveis!
Não senhor! – Nós somos a favor do museu do design, somos pela toicinhada e espadaúda vitória do materialismo industrial, ainda que sob a forma de design, sobre o espírito “piegas”, “desvalido”, “abatido” e “passadista” do artesanato popular! Nós somos por Sancho Pança contra D. Quixote!...
E connosco, os eborenses e os habitantes da cidade têm de fazer o mesmo, se quiserem, em matéria cultural (e não só), amoldarem-se à época, aos costumes “modernos” e ao executivo autárquico a quem se devem dirigir todos os dias como munícipes!


Joaquim Palminha Silva, Cronista, in “a defesa” de 28 de Abril de 2010

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