Há alguns dias que, em certos meios da cidade, não se fala de outra coisa.
A possibilidade de vir a encerrar o Centro de Artes Tradicionais tem gerado inúmeras conversas, solidariedades e tomadas de posição.
Tudo isto começou com a apresentação em reunião pública de câmara, de uma minuta de protocolo para a criação de um museu de design.
Trata-se de um acordo tripartido entre um coleccionador privado, a Câmara Municipal e a Entidade Regional de Turismo, que prevê a utilização do espaço onde hoje existe o Centro de Artes Tradicionais para a instalação do dito museu do design.
Aquando da discussão do conteúdo do protocolo, foram colocadas pelos vereadores da CDU várias questões, cujas respostas não considerámos satisfatórias.
Tratando-se de um protocolo em que o Município assume a totalidade da logística, a adaptação do espaço, e os meios humanos necessários ao seu funcionamento, seria natural que junto do mesmo fosse apresentada um estudo que nos esclarecesse qual o valor em causa. Tal não aconteceu e nem em reunião de câmara a vereadora do pelouro ou o presidente foram capazes de dizer com clareza quais os custos para o município da instalação daquela colecção privada.
Previa o tal protocolo a manutenção deste apoio por parte do município até que o referido museu atingisse a auto-sustentabilidade, o que, segundo previsão da responsável do pelouro, aconteceria ao fim de dez anos.
Como o protocolo tem a validade de 10 anos, facilmente se conclui que o apoio se manteria durante toda a sua vigência.
Entendemos que tal distribuição de encargos e benefícios se manifestava lesiva do interesse público.
Nada me move contra a instalação de uma exposição permanente de peças de design industrial na nossa cidade, nem contra o proprietário do acervo a expor. Entendo até que a diversificação da oferta, com a instalação desta exposição permanente, constitui uma mais-valia para o concelho.
O que já não me parece razoável é que essa instalação se faça num espaço onde existe um Centro de Artes Tradicionais e em sua substituição.
Surgem agora argumentos que vão no sentido de nos tentarem convencer que as duas realidades podem coexistir naquele espaço.
Dando de barato a questão do enquadramento das Artes Tradicionais com o Design Industrial, num mesmo espaço, que nos parece francamente improvável e indesejável, basta uma leitura atenta da minuta do protocolo para se perceber que não existe uma única referência à manutenção do que constitui hoje o acervo do Centro de Artes Tradicionais.
Dois aspectos me parecem perfeitamente claros neste processo: por um lado uma desequilibrada distribuição de benefícios e encargos pelos parceiros, ficando, na prática, o município a sustentar a exibição de uma colecção privada de peças de Design Industrial, por outro lado a morte não anunciada de um espaço museológico dedicado às artes tradicionais que a acontecer será um verdadeiro crime de lesa cultura.
Por estas duas razões, eu e os meus companheiros eleitos pela CDU na Câmara Municipal votámos contra a assinatura daquele protocolo.
Lamentavelmente a maioria PS/PSD teve o entendimento contrário. Se existir bom senso ainda vão a tempo de voltar atrás e propor um novo protocolo, mais equilibrado e instalando a colecção de peças de design num outro espaço.
Bem sei que estou a pedir um milagre, mas como hoje é 13 de Maio…
Eduardo Luciano*
in Crónicas da DianaFm, 13 de Maio 2010
(*Candidato e vereador CDU à Câmara Municipal de Évora)
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